Sexta-feira, 26 Abril

«Apneia» por Hugo Gomes

Chris (Marisol Ribeiro) é uma jovem que sofre de apneia do sono, por outras palavras, dormir é um risco para a rapariga visto que a insuficiência respiratória é frequente. Para prevenir esses tormentos da noite, Chris penetra num mundo de drogas, sexo e álcool, tornando todo os dias numa festa interminável.

Apneia afigura-se no mesmo registo de Bling Ring, de Sofia Coppola, e do subvalorizado Spring Breakers, de Harmony Korine, na dissecação de uma geração nilista e “acorrentada” a vínculos de futilidade e luxuria. Mas ao contrário dos exemplos acima referidos, o filme de Maurício Eça peca pela sua constante falta de carácter e de primazia em abordar tais assuntos. Para além disso, o filme assume-se como um conto com fins morais, onde o conjunto de personagens não são mais que mero protótipos novelescos com evidentes fobias em devotarem-se como “figuras vazias” num cenário propício.

Os atores fazem o que podem perante esse sacrilégio de “bonecos” sistematizados por lugares-comuns da TV, ou sob outras tendências, como a expansão das webséries, visto que esse formato não fomenta intrigas complexas para benefício do seu público-alvo (impaciente e exaustivamente consumidor). Já que falamos de webséries, é curioso que muitos trabalhos ostentam um rigor técnico mais apresentável que este Apneia. A sua estrutura de planificação é académica o suficiente para não salientar nenhuma prova de vivacidade no ramo da direção, para além de mudança de planos injustificáveis que atrapalham, e muito, a visualização do espectador.

Mesmo tendo temáticas joviais e debates sociais pelo meio, Apneia não revela esse instinto inconsequente nem essa força vital, o que existe aqui é somente um amontoado pastiche, povoado por personagens desequilibradas repletas de conflitos pessoais resolvidos num ápice, sem nunca ter espaço para ecoarem na narrativa.

O melhor – as atrizes
O pior – o registo, a realização, a montagem e tramas embutidas e passageiras


Hugo Gomes

Notícias