Sexta-feira, 26 Abril

«Hoje eu Quero Voltar Sozinho» por Roni Nunes

Em tempos em que toneladas de dinheiro para marketing mascaram a grave crise criativa que Hollywood atravessa já há uns bons anos, é comum ouvir-se afirmações de que “todas as histórias já foram contadas e é difícil inovar”. Filmes como este (num registo semelhante a As Vantagens de Ser Invisível por exemplo, lançado há dois anos) vêm lembrar que sempre se poderão contar as mesmas histórias – a questão é como contá-las. E aí entra-se num domínio em que o dinheiro nada pode fazer. 

Hoje eu Quero Voltar Sozinho centra-se nas relações entre três adolescentes de São Paulo (Brasil), dois rapazes (um dos quais cego) e uma rapariga (Fabio Audi, Ghilherme Lobo e Tess Amorim), a viver as típicas dificuldades da adolescência. Neste aspeto, é um típico coming-of-age – onde, sobre a evolução do enredo, perpassam temas como a autoafirmação (presente no título), a descoberta da sexualidade (homossexual, inclusive), do amor e da amizade.

A comparação com o filme de Stephen Chbosky não é de todo gratuita: também lá, à base de pérolas da música indie (aqui acrescida de música erudita), se abordavam, de maneira emocional e sensitiva, os pequenos/grandes dramas da chegada à vida adulta, uma idade que, como poucas, se presta para achados de sensibilidade e poesia.

E o argumentista/realizador Daniel Ribeiro, transformando em longa uma premiada curta-metragem de 2010, não comete um único erro – onde os diálogos perfeitos e um enorme sentido de humor compõem uma narrativa de uma limpeza clássica, com uma direção milimétrica de atores e terminando por alcançar um registo de rara delicadeza. São obras assim que asseguram a continuidade da magia no cinema.

O Melhor: haverá sempre espaço para se contar com magia as mesmas histórias
O Pior: que nenhum distribuidor pegue nisso e o lance com uma divulgação decente


Roni Nunes

 

 

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