Sexta-feira, 26 Abril

«Timbuktu» por Paulo Portugal

A primeira pérola do festival chega da Mauritânia, pelo cinema perspicaz de Abderrahmane Sissako, que regressa a Cannes depois de Bamako, em 2006. Desta vez para nos dar as diferentes tonalidades da pacata Timbuktu diante da intolerância justificada pelo fundamentalismo religioso. A isso responde o realizador com a serenidade das pessoas que elevam o seu filme a algo superior. E é precisamente nas pequenas coisas que o filme se torna grande. Muito.

No centro do filme temos uma família que é visitada por uma tragédia, quando uma das suas vacas é morta por um pescador que reage à destruição das suas redes de pesca. Irrefletido, Kidane decide vingar-se e acaba por acidentalmente o matar. Ao enfrentar a lei marcial, pede apenas que o deixem ver o rosto da mulher Satima e a filha Toya.

Um filme sereno onde vimos aquela que será uma das sequências do festival, quando um grupo de jovens a quem se proibiu o futebol, jogam com uma bola imaginária. Momento encantador de cinema que segue uma jogada que acaba por ter o desfecho celebratório de um menino vestido com a camisola de Messi.

O melhor: O cinema subtil e sereno de Sissako e a sequência do “futebol imaginário”.
O pior: Quase nada, algumas personagens que parecem menos definidas.


Paulo Portugal
(Crítica originalmente escrita em maio de 2014)

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