Sábado, 27 Abril

«Batman at the Checkpoint» (e mais curtas do Berlin Today Award) por João Moreira

Inserido na iniciativa Berlinale Talent Campus, o Berlin Today Award serviu como competição de curtas metragens entre 2005 e 2012. Os candidatos eram emparelhados com produtoras alemãs, era-lhes dado um tema e um limite de 10 minutos, e os melhores cinco eram apresentados ao público durante a Berlinale.
 

Este ano o tema foi “every step you take“.

 
 {xtypo_rounded2} 

Finalistas

 
ABC (5/10)
 
 
 
ABC começa com uma citação algo improvável. Diz-nos um taxista da capital da Libéria: “Educate a woman and you educate a family, educate a girl and you educate the future” . A realizadora estónia Madli Lääne deslocou-se ao país num projeto de voluntariado e por lá conheceu a história de Vele, uma mãe adolescente com o sonho de se tornar enfermeira. Entre ela e o realizar do sonho estão 14 anos de estudos, já que Vele faz parte dos 78% de liberianas rurais que não sabe ler nem escrever.
 
Depois desse primeiro contacto, a realizadora voltou à Libéria de câmara na mão e encontrou Vele a partilhar as carteiras da escola com a filha, confiante de que vai conseguir atingir o seu objectivo. A curta documental que saiu desse reencontro tenta transmitir-nos as dificuldades que mulheres como ela têm de enfrentar para conseguir uma educação adequada.
 
Em termos de conteúdo não posso dizer que tenha ficado maravilhado com esta curta. Não traz nada de novo e não aprofunda minimamente o assunto (mesmo tendo em conta que dura apenas 10 minutos). No entanto, alguns pormenores visuais muito interessantes, como o uso de filtros de cor, deixaram-me curioso quanto ao trabalho desta realizadora.
 
 
Five Ways to Kill a Man: (9/10)
 
 
 
Sam é um jovem adulto, nos seus 20 e muitos anos. No caso em concreto aparenta ser um expatriado anglófilo em Berlim mas na verdade isso não conta muito, o que conta para Five Ways to Kill a Man são os pequenos gestos do dia a dia.
 
Nesta curta metragem o realizador Christopher Bisset lança uma pergunta: como seria viver com as consequências dos nossos pequenos luxos ocidentais? Ao longo do dia em que a acção decorre, Sam sabe que ao deixar a água aberta enquanto lava os dentes, o aquário onde guarda os peixes fica mais vazio; que terá que entreter as crianças asiáticas que lhe fizeram os ténis bem, como a mulher brasileira que trabalhou para ter o seu café; que terá de levar consigo animais mortos em marés negras e um balão com a poluição do seu automóvel e, last but not the least, visualizar o facto do atum que come ter influência na vida dos golfinhos.
 
No final do seu dia, Sam deita todas essas externalidades no camião do lixo mas Christopher Bisset consegue deixar-nos a pensar no assunto através desta abordagem inventiva e bastante bem humorada. Five Ways to Kill a Man é um excelente exemplo de como se pode ser sério e leve ao mesmo tempo.
 
Um filme muito bem feito, terra-a-terra, e com um conteúdo interessante é mesmo a minha onda, pelo que não é de estranhar que esta tenha sido a minha curta favorita da Berlinale 2012.
 
A Little Suicide: (8/10)
 
 
 
A Little Suicide é um curiosíssimo filme em que a animação e a imagem real se misturam de uma forma muito inovadora, num compósito de filmagens, stop-motion e time-lapses que levou 5 meses da vida da realizadora Ana Lily Amirpour para um resultado de 10 minutos. Nele seguimos uma anónima barata que, conhecendo o ódio que a raça humana tem pela sua espécie, deseja morrer.
 
Ora, pensa ela, nada melhor que me colocar em situações em que os humanos me desejem matar. Acontece que a nossa amiga barata escolheu o pior dia de todos para provar a sua teoria existencialista. No dia em que a barata decide morrer, todos os humanos que encontra são (relativamente) simpáticos consigo e, resumindo e concluindo, não a matam.
 
Eis senão quando a barata acorda. Ao seu lado está a sua mulher e as suas centenas de baratas-bebé. Tudo foi um pesadelo? Parece que sim, até que…
 
Com a excelente animação que já referi e uma mensagem positiva e de tolerância, A Little Suicide será decerto um excelente acrescento a festivais de animação e/ou programação infantil de futuros festivais de cinema.
 {/xtypo_rounded2} 
 
{xtypo_rounded2}

Menção Honrosa

White Lobster (5/10)
 
 
Em White Lobster o realizador britânico David Lale leva-nos numa viagem até à comunidade de Bluefields, na Nicarágua. Situada na costa oriental do país, Bluefields vive do turismo e daquilo que o mar lhes dá, até porque não há muito mais opções…Bluefields não tem sequer ligação terrestre com o resto do país.
 
Durante os 10 minutos da curta (que também tem uma versão mais longa, fora de competição) ouvimos três testemunhos sobre a única forma de ganhar dinheiro a sério numa zona onde a pobreza é a regra e não a excepção. A primeira das pessoas que conhecemos é um imigrante norte-americano que por lá vive e nos conta que é frequente ver-se centenas de locais sentados na praia à espera que o mar lhes traga a lagosta branca, que vale cerca de $ 4.000/kg e que pode mudar a vida a quem a encontrar.
 
O segundo testemunho é de um pescador. Este conta-nos que em tempos encontrou um grupo de 64 lagostas brancas, imaginou logo a sua vida melhorar consideravelmente, mas entretanto acabou preso, já que as autoridades lhe confiscaram o produto.
 
Finalmente, o terceiro testemunho é o de um jovem ex-toxicodependente que – sentado nas ruínas da sua casa de família – nos explica o que é o famoso produto. Trata-se de cocaína que vem à costa de tempos a tempos, depois dos cartéis colombianos a terem deitado ao mar quando perseguidos pelas autoridades americanas.
 
É interessante conhecer estes pequenos pedaços de mundo, mas muito honestamente o filme não me aqueceu nem me arrefeceu.
{/xtypo_rounded2}
 
{xtypo_rounded2}  

Vencedora

 
Batman at the Checkpoint (6/10)
 
 
 
Batman at the Checkpoint não é um filme de super-heróis. Existe um Batman, sim senhor, mas apenas um brinquedo de plástico transportado por Mahmoud, filho de pais palestinos que aguardam a passagem por um check-point israelita. Ao seu lado, na fila exclusiva para israelitas, está o carro dos pais de Yuval. Os adultos olham-se de forma agressiva e desafiante, mas as crianças não ligam às separações historico-politico-religiosas e interagem da mesma maneira que muitos de nós o fizemos em semáforos: através de um concurso de caretas.
 
À primeira vista o realizador Rafael Balulu passa uma mensagem de esperança que, infelizmente, me parece irrealista. É verdade que entre crianças não existe a diferença israelita-palestiniano, mas a última cena é clara numa coisa: uns avançam enquanto outros ficam para trás, sujeitos a inspecção.
 
O estilo do filme é decente e a mensagem adequada ao público que em princípio o verá, mas nada nele me deixou memórias que recordarei daqui a uns tempos. 
 
{/xtypo_rounded2}
 


 
 João Moreira
 
 
 
(responsável pelo blog subjective.movie.reviews)


 
 
 

Notícias