Quinta-feira, 2 Maio

«A Última Vez que Vi Macau» por João Miranda

 
 
Um documentário, com uma narrativa noir e contornos de ficção científica, é isto que “A última vez que vi Macau” se propõe ser. O filme, dos realizadores portugueses João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, já foi premiado pela sua ambição em festivais no Chile e na Suíça, mas será que essa ambição não foi demasiada?

A fita segue a história do regresso Guerra da Mata ao território que conheceu quando criança para tentar ajudar uma amiga em apuros. Candy, a amiga, vê-se envolvida num plot que gira à volta de uma relíquia com poderes maravilhosos desconhecidos, à imagem de “Pulp Fiction” (até brilha quando aberta e tudo). Guerra da Mata narra as suas aventuras, sem nunca se ver mais do que os pés ou as mãos da personagem, tudo com Macau como cenário.

Infelizmente, é nesse plot que está uma das maiores falhas do filme: parece que não havia confiança suficiente nas imagens recolhidas durante seis meses de filmagens e que se decidiu encenar uma história mal pensada (o fim tem tantos buracos que, se fosse uma meia, mais valia deitá-la fora a cosê-la). O que é uma pena, porque fica a ambição do filme como um testamento do que este poderia ter sido e a sua concretização muito aquém do imaginado.

Outra falha é o tratamento de Macau: já em muitos filmes os locais foram tratados como personagens de direito próprio (quem pode esquecer o Hotel Overlook em “The Shining”?), mas aqui a imagem de Macau é dobrada aos propósitos da narrativa e do estilo escolhidos, acabando por ficar mal-servida. Ainda há uma tentativa de se documentar o que se vê, introduzindo uma segunda voz-off, que não serve qualquer propósito na narrativa e não tem personagem correspondente, mas esse esforço só torna mais evidente a falta de ideias e o improviso que poderá ter estado por detrás do filme.

Fica-se por um filme demasiado ambicioso no que pretende, com uma história com piada, mas mal contada e um documentário medíocre. Pena, porque parecia poder ser mais.

O Melhor: Algumas das imagens de Macau.
O Pior: Os buracos das cenas climáticas do filme: para alguém que nunca sabe onde está e a quem nunca ninguém é capaz de dar indicações, conseguir fugir de uma ilha, arranjar uma arma e encontrar, sem qualquer explicação, o MacGuffin que persegue durante todo o filme…
 
 
 
 João Miranda

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