Terça-feira, 19 Março

“Nós adoramos monstros, demónios e o mal”- Andy Nyman e Jeremy Dyson

Ghost Stories, que será exibido no sábado (08/09) no âmbito da edição em curso do Motelx, recupera as narrativas episódicas do cinema inglês – na tradição dos “portmanteaus” de clássicos como Dead of Night e as histórias da Amicus dos anos 60.

Realizado por Andy Nyman e Jeremy Dyson a partir de uma peça de sucesso encenada por eles próprios, envereda pelas tradicionais histórias de fantasmas pelas quais as ilhas são pródigas desde o final do século XVIII e traz o “hobbit” Martin Freeman como um dos protagonistas.

O filme, eventualmente um dos mais fortes candidatos ao prémio do público do festival, gira em torno de uma investigação promovida por um especialista em desmitificar fenómenos paranormais (Andy Nyman) que tem pela frente três casos “insolúveis” para tentar resolver.

Nyman, que estará no cinema São Jorge para uma “masterclass” depois do filme, falou com o C7nema e esclareceu, entre outras coisas, questões cruciais como por que os ingleses gostam de “assustarem-se uns aos outros”…

Existe um aspeto tradicional nas histórias de fantasmas que também abordam no filme que relaciona os fantasmas com uma dimensão moral, uma expiação do passado.

Certamente. Um dos aspetos das histórias de fantasmas que nos fascinava é sua moralidade, que é profundamente judaico-cristã. Um dos erros frequentes que as pessoas que não gostam de histórias de terror cometem é pensarem que elas são guiadas pela subversão, por noções destrutivas. Na realidade a maior parte delas traz uma posição profundamente moral. Se você peca, você paga – e um preço bem alto.

Diferentes personagens no filme põe a questão de que o “cérebro vê o que ele quer”. Isso significa que vocês preferem uma abordagem psicológica em vez de uma sobrenatural?

Bom, isso é uma questão complexa. No caso dos personagens de Ghost Stories a rota é, de facto, uma abordagem psicológica. Mas outras histórias trazem diferentes versões. Nós adoramos a ideia de monstros, demónios e do mal. Vendo como eles enquadram o nosso trabalho é um forte impulso e nós queríamos explorá-lo. Monstros irreais num mundo real: é delicioso!

Em termos visuais vocês trazem elementos mais contemporâneos, como o uso de objetos inanimados e monstros como manifestações de terror. Como vocês conceberam essa parte?

Nós sabíamos que queríamos contar uma história clássica. Muitas das nossas influências vêm de daí. Nós estávamos mais interessados em criar um tipo de medo que vai aos poucos tomando conta e não deixa o espectador escapar. Neste sentido, deste o primeiro frame nós o informamos de que alguma coisa está profundamente errado!

O cinema inglês tem a tradição dos portmanteaus, conforme iniciada com Dead of Night e particularmente explorada pela Amicus. Esse tipo de estrutura estava presente na peça ou vocês escolheram especialmente para o filme?

A peça de Ghost Stories seguia uma estrutura similar – três histórias que eram contadas individualmente mas estavam inextricavelmente ligadas. Nós adoramos a herança britânica dos “portmanteaus” e “Dead of Night” é de longe o melhor e serviu de guia para nós. Ele funciona tão bem porque os protagonistas da história são muito fortes. A ligação entre as histórias não são apenas um artifício, ela tem um papel importante.

Os ingleses sempre adoraram e difundiram pelo mundo histórias de fantasmas. Por que você acha que isso acontece? 

É estranho, não? Essa nossa herança fantasmagórica… Talvez isso venha da história pagã do nosso país. Uma coisa que nós esquecemos no mundo globalizado dos nossos dias, onde estamos tão conectados, é que a Inglaterra é apenas uma pequena ilha, apartada de todo o mundo… e chove imenso! Claro que então nós gostamos de assustarmos uns aos outros!

Como foi a entrada de Martin Freeman no projeto?

Nós sabíamos que para o papel precisaríamos uma estrela com um perfil internacional, mas também teria de ser britânico e um ator com que fosse bom em drama e comédia. Martin foi o primeiro nome que nós pensamos. Eu tinha trabalhado com ele num filme chamado ‘The Eichiman Show’ e sabia o quão brilhante ele era. Nós enviamos o argumento ao seu agente e felizmente ele adorou e entrou no projeto. A sua performance é simplesmente incrível.

Vocês têm novos projetos?

Jeremy e eu estamos a trabalhar no nosso próximo argumento, que é muito excitante. Eu também filmei alguns projetos que serão lançados no próximo ano – como uma série da BBC com a Netflix chamada Wanderlust, com Toni Colette, e outra da Amazon, Hanna, e o novo da Renée Zellweger sobre a Judy Garland, Judy, e por fim, um papel num filme da Disney, Jungle Cruise. Têm sido uns tempos ocupados…

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