Sábado, 27 Abril

«King of Thieves» (O Rei dos Ladrões) por André Gonçalves

A premissa aparenta ser refrescante, vista a uma certa distância: resgatar uma geração de atores britânicos de uma certa idade, colocando-os de novo a encabeçar uma golpada à antiga. Desta feita, trata-se do roubo “real” de diamantes de um cofre de uma das zonas mais ricas de Londres: Hatton Garden.  

O rei dos ladrões do título é Brian Reader (Michael Caine) que convoca então a sua equipa de veteranos, onde salvo uma excepção, é toda ela composta por homens, ou preocupados em levar injecções para a diabetes tipo 2, ou que “passam das brasas” muito facilmente. Assim, uma ideia de sketch pincelada com a idiossincracia que o humor britânico oferece prolonga-se até ser impossível disfarçar o aborrecimento. As piadas, ora geriátricas, ora simplesmente datadas, acumulam-se. 

Se é certo que noutros tempos, o charme destes senhores atores (para além de Caine, temos: Jim Broadbent, Tom Courteney, Ray Winstone, Michael Gambon e Paul Whitehouse) por si só desse carta branca a um veículo despudorado, não é preciso ter essa referência esfregada na cara do espectador – sim, temos literalmente as versões cinematográficas mais jovens destes atores inseridas na sala de montagem a corte e colagem. Facilitista, para dizer o mínimo. Aliás, não seria preciso tamanho truque para nos darmos conta que os atores encontram-se presos às expectativas mais básicas que possamos ter deles, de há meio século para cá: encontram-se todos dispostos a cumprir os seus maneirismos tradicionais, em segurança. As personagens deixam de ser reais para serem adaptadas às suas personas, portanto. O argumento não pede mais, afinal: veja-se, a título de exemplo básico, como o uso da perda da mulher do protagonista logo nos minutos iniciais é apenas mencionada no futuro desta narrativa um par de vezes como punchline – algo como  “Se a minha mulher nos ouve dá voltas na campa…” (parafraseado do que é efetivamente dito, mas é esta a intenção).   

Em suma: perante tamanho roubo, o maior roubo permanece ainda assim o do tempo precioso do espectador. 

André Gonçalves 

Notícias