Neste regresso de John Woo ao género de filmes com que ficou célebre em Hong Kong, como The Killer (1989), Crime em Hong Kong (1986) e Hard Boiled (1992), Du Qiu (Zhang Hanyu) é injustamente acusado de assassinar uma femme fatale e parte em fuga de tudo e todos – em especial do detetive Yamura (Masaharu Fukuyama) – enquanto se encontra envolvido numa conspiração que envolve uma grande farmacêutica.
Para levar a àgua ao seu moinho, Woo usa todos os truques identificativos do seu cinema: perseguições diabólicas, sequências com motos (em terra e em água), cavalos, tiroteios (double guns com fartura), explosões coreografadas ao pormenor e, claro, pombos brancos a esvoaçar em câmara lenta no meio de combates mano a mano. É o cinema mais puro de Woo e de Hong Kong, transformado num espetáculo visual que prefere o uso de duplos a construções em CGI, não faltando ainda frases feitas proferidas por protagonistas onde a rivalidade é mais estrutural dos buddy cop films do que de verdadeiros nemesis.
Se há pecado nisto tudo – e acaba por nem o ser pois os filmes de Woo normalmente têm enredos mirabolantes (pensem em Face Off-Dupla Face) – é a sua históriao tão surreal como ridícula e inverosímel, onde não faltam assassinos contratados, conspirações industriais e laboratórios super tecnológicos que produzem drogas que transformam pessoas em verdadeiros zombies.
Absurdo, mas extremamente retro e kitsch tudo o que se assiste por aqui. Para aqueles que gostam do cinema de Woo e da força de Hong Kong na ação, Manhunt acaba por ser um curioso ensaio escapista onde não faltam referências e autoreferências, como logo no início do filme, quando o nosso futuro “Fugitivo” a fala do Cinema de outros tempos enquanto namorisca uma “inocente” empregada. Um mimo que apesar de nos fazer sentir compelidos a entrar nisto tudo, não chega para nos entregar um filme verdadeiramente memorável.
Jorge Pereira