Terça-feira, 19 Março

«Kubo and the Two Strings» (Kubo e as Duas Cordas) por Hugo Gomes

É fácil ficarmos deslumbrados com a animação stop-motion oriunda dos estúdios Laika, aliás é porventura um cliché esses elogios escritos para este tipo de produção, e muito mais a recordação da “trabalheira” que estes gráficos implícitos no grande ecrã deram. Porém, Kubo e as Duas Cordas, para muitos a apropriação oriental do estúdio a um conto coming-to-age, é até à data o mais impressionante no registo estético (“If you must blink, do it now“), até porque a ação é um desafio à altura dos “bonecos de plasticina”, sem com isso existir qualquer sacrificio na arte narrativa.

Facilmente estampado como o Filme de Animação do Ano, Kubo remete-nos à história de uma homónima criança de pai desconhecido que vive os seus dias de existência de maneira rotineira e martirologica. Passando pelo “pedinchar” aos habitantes da aldeia através das histórias mirabolantes que narra, tudo sob os enérgeticos acordes da sua viola de duas cordas, para no final, cuidar da sua demente mãe que constantemente o adverte para nunca permanecer fora do abrigo durante a noite. Mas como qualquer fábula, a promessa é quebrada e algo maquiavélico se revela nas sombras para capturar o nosso pequeno herói.

Sim, é uma história sobretudo alicerçada à violência, artes marciais e sugestões do género, mas é no veio desse “arquétipo de desenhos animados matinais” que Kubo e as Duas Cordas disponibiliza uma mensagem pacifista, melancolicamente “ganchada” ao trágico destino do nosso herói. Por vezes não é a violência que conta mas para onde esta nos leva e nesse sentido, Kubo desvenda-se como um “pequeno tesouro”, dotado de coração e bravura em equilibrar um espetáculo destinado aos mais jovens mas igualmente gratificante para adultos e graúdos puderem maravilhar.

A banda-sonora de Dario Marianelli também fortalece os propósitos emocionais desta rica e atmosférica história que tem tanto do nipónico folclore de Ronin, os samurais sem dono, ao estilo dos animes e do fulcral trabalho de Miyazaki, como do conto chinês, A Jornada para o Oeste. Concluindo, Laika Films aposta na maturidade e com isso sai triunfante.

O melhor – a animação, a moral e as personagens

O pior – ser considerado demasiado agressivo para os mais novos

Hugo Gomes

 

 

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