Sexta-feira, 26 Abril

«Experimenter» (Stanley Milgram, O Psicólogo Que Abalou a América) por Duarte Mata

À semelhança do que Margarethe von Trotta havia feito há quatro anos com Hannah Arendt, o mais recente filme de Michael Almereyda – Experimenter – parte do seu retratado (o controverso psicólogo Stanley Milgram) para fazer um estudo breve sobre a banalidade do mal e das críticas com que os seus defensores se deparam, sujeitando-se mesmo à humilhação pública. Tudo em nome da ciência e da descoberta do que é, enfim, a Natureza Humana. No entanto, o que torna Experimenter superior é não padecer ao academismo formalizado de von Trotta, optando por um artificialismo clássico assumido (é o caso dos cenários serem, muitas vezes, projeções a preto-e-branco do espaço em questão), embora não tenha também receios de quebrar, humoristicamente, a 4ª parede.

O maior interesse recai nas recriações e imagens de arquivo das experiências que o psicólogo levou (particularmente a mui polémica de 1961, onde voluntários aplicavam choques elétricos de voltagem gradual a um sujeito que ouviam sofrer numa sala vizinha), com a finalidade de estudar a conformação e submissão às figuras de autoridade. Mais do que técnica (Almereyda não tem nada a que se possa chamar de “clarão visual”) ou dramaturgia (o clímax, simplesmente, não existe), esta obra prevalece pela temática que aborda e que merece ser continuamente discutida. É o cinema como utensílio pedagógico, longe de querer santificar o seu retratado, mas também não pretendendo ter uma postura indiferente face ao seu trabalho.

Infelizmente, pouca vida parece haver para além do protagonismo impecável de Peter Sarsgaard. Wynona Ryder como a esposa de Milgram é mero acessório e as restantes personagens não a superam. Mas, mesmo não sendo um grande filme, pede aos espetadores para se colocarem, cordialmente, neste laboratório macabro e sentarem-se na cadeira das cobaias. Menos uma questão de cinema, mais um objeto de educação, o que não impede de o ser um biopic mais entusiasmante do que alguns dos que temos visto surgirem dos grandes estúdios nos últimos anos.

O melhor: A relevância psicológica, histórica e educativa.

O pior: Wynona Ryder e o product placement

 

 

Duarte Mata

 

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