Sexta-feira, 26 Abril

«The BFG» (O Amigo Gigante) por Hugo Gomes

Um enredo de gigantes “caçadores de sonhos” escrito por Roald Dahl em 1982, é, teoricamente, “pano para mangas” do habitual cinema familiar de Steven Spielberg, aquele que é visto por muitos como um dos maiores contadores da história da indústria cinematográfica norte-americana. Por isso, não há que enganar, The BFG (O Amigo Gigante) é um claro filme de Spielberg, confortavelmente composto pelo sua costura clássica e embrulhado com os últimos avanços tecnológicos que adquirem o seu quê de “credibilidade“. 
 
É a pausa do cinema politico que o realizador tem vindo a tecer nos últimos anos e o retorno aos condimentos que fizeram ET um verdadeiro êxito. Obviamente que o cinema dito blockbuster atual segue em outras direções, contraiu uma faceta de multi-plataformas e foi influenciado por essas referidas e paralelas convenções. Já soa um cliché mencionar a megalómana indústria Marvel para perceber um pouco como funciona a indústria dos nossos dias, mas é talvez essa comparação que nos leva a “conspirar” porque é que um filme como The BFG, ligado a um nome mundialmente reconhecido, falhe nas bilheteiras do seu país.
 
Spielberg esboça um ingrediente hoje perdido nesse grande cinema de entretenimento – ingenuidade – não da forma ignorante ou “acanhada” como muito do cinema de teor politico (e não só) que parece hoje tomar, mas a inocência do simples storytelling, e se não for, a suposta atribuição desta. Ao ver The BFG vem-nos os aromas de um cinema perdido, a fantasia levada com exclusividade na grande tela, e Spielberg reconhece essa extinção que só poucos autores, muitos deles veteranos nestas andanças, continuam a invocar (com exceção do jovem J.J. Abrams, o “aprendiz” que tem vindo a reafirmar esse tão obsoleto toque com alguma eficácia). Por isso não esperem aqui um revitalizador Spielberg, como havia sido mostrado em Munique [ler crítica] ou até mesmo em Lincoln [ler crítica], porém, aguardem por um cineasta que resiste ao tempo, mesmo que este não seja o seu melhor amigo.
 
Como cedência ao mesmo, os efeitos visuais são de topo, com Mark Rylance, a caminho de se tornar num dos eventuais colaboradores do realizador, “vestindo” a pele deste simpático gigante possibilitado com o método “motion capture“. Os resultados suscitaram no  espectador algumas curiosas afinidades. A companhia deste gigante pedaço de CGI é a jovem atriz Ruby Barnhill, de carne e osso, que nos retransmite essa mesma sensação de inocência de primordial. 
 
Quanto às iminentes imaturidades da história e o desfecho inacreditavelmente fácil, isso, só será possível ao reclamar com o próprio Roald Dahl, que não faz parte deste mundo há mais de 26 anos. Todavia, os seus relatos continuam a inspirar gerações, em particular um “menino” chamado Spielberg.
 
O melhor – os efeitos visuais, a narrativa confortavelmente “spielbergeana
O pior – é vintage, mas mata as saudades!
 
 
Hugo Gomes

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