Sexta-feira, 26 Abril

«Our Brand Is Crisis» (Os Profissionais da Crise) por Virgílio Jesus

Quando o candidato presidencial boliviano Castillo apresenta um desastroso resultado nas sondagens (com apenas 8% dos votos), decide contratar uma agência de gestão americana cuja líder é Jane Bodine (Sandra Bullock). A mesma é uma consultora política demasiado perturbada por um escândalo do passado que envolveu o líder da estratégia da oposição, o repulsivo Pat Candy (Billy Bob Thornton), permitindo a que lhe fosse atribuída a alcunha “Calamity“. 

À medida que mergulha numa crise de identidade, Jane arrisca o seu dia-a-dia numa tarefa árdua, que mais parece impossível. Nesse meio de estratégias de marketing depreendemos como os consultores políticos são peões invisíveis entre os candidatos e um eleitorado desejoso por um país mais justo e Jane Bodine é claramente a mente coordenadora do sistema. Todavia, mesmo que a protagonista seja uma personagem forte nesse exigente e manipulador meio, o filme cai por vezes numa ou outra piada de mau gosto, próximas às típicas comédias adolescentes.

A história é contada sob flashback, no qual mergulhamos no passado de transformação psicológica da protagonista. Inicialmente Jane não sabe se arrisca voltar àquele emprego, quando um par de consultores de campanha (Anthony Mackie e Ann Dowd) lhe batem à porta. Quando aceita o desafio temos uma Jane ambiciosa e competente, mas antes vemo-la estonteada pelo seu medo de alturas e depois pela sua dificuldade em respirar tem que andar uma botija de oxigénio – algo que metaforicamente elucida um ambiente asfixiante que consumirá a sua sanidade – obrigando-a, por fim, a tomar uma decisão crucial na sua vida profissional. Sandra Bullock não tinha tarefa fácil após o seu desempenho em Gravidade, mas consegue pela sua transformação física e mental manter o espectador atento às intrigas e mentiras do sistema político.

Além de Bullock o pedacinho português no enredo Joaquim de Almeida consegue fugir aos estereótipos das restantes personagens que já desempenhou em Hollywood (como o barão da droga em Velocidade Furiosa 5), porque cria um outro ator em cena, ironicamente uma amostra e reflexo de muitos políticos lusitanos – somos iludidos na repetida palavra “crise” que utiliza no seu discurso e até lhe queremos confiar o nosso voto. Logo, o espectador percebe o contexto que vivencia porque as palavras proferidas por políticos são fraudulentas – dispomos do mesmo caráter que a personagem Eduardo Camacho (Reynaldo Pacheco) miúdo que vê em Castillo uma figura paternal, o salvador da pátria que nunca será.

De resto, Profissionais da Crise tem dificuldade em seguir um enfoque despretensioso, pela excentricidade que lhe está envolta – exemplo para a máscara de rinoceronte que Jane coloca, em pleno delírio. Atente ainda para a cena em que o candidato presidencial vence as eleições de forma tão efémera que não nos faz pensar no sucedido quando, paradoxalmente, o cerne da trama é originário disso mesmo. Por sua vez, só na sequência final, com a agitação social, é que percebemos aquilo que o filme esperava transmitir – nomeadamente as falhas da democracia e os consequentes efeitos entre a população, como a pobreza e a injustiça. A esperança morre simplesmente porque nada mudará enquanto a matriz que rege qualquer país não for alterada.

O melhor: A agitação social na mudança de atitude da protagonista.
O pior: A chegada tardia do enfoque da trama.


Virgílio Jesus

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