Sexta-feira, 26 Abril

«Legend» (Lendas do Crime) por Virgílio Jesus

Este é definitivamente o ano de Tom Hardy. Após interpretar Mad Max no novo capítulo da saga, Estrada da Fúria, o ator britânico de 38 anos dá provas da vitalidade da indústria cinematográfica em constituir novas estrelas. No início do próximo ano veremo-lo em The Revenant: O Renascido, o novo filme de Alejandro Gonzalez Iñarritu com Leonardo DiCaprio no papel principal, no qual poderá ser um dos nomeados ao Óscar de melhor ator secundário. Em Lendas do Crime, a sua interpretação terá que ser vista no caso bastante particular.

A duplicidade do seu rosto está bem visível nas duas personagens que encarna, os irmãos gémeos Ronald Kray e Reggie Kray. Durante a década de 60, os Kray foram considerados os homens mais perigosos de Londres, que lideravam um grupo de gangsters com origens em East End.

Ronald é doente mental, sofre de esquizofrenia paranóide e é capaz de destruir qualquer pessoa que atravessa o seu caminho. Reggie é atencioso, mas não evita aquele submundo porque está demasiado atormentado pela presença do irmão. O público quase pensa que existem dois atores a interpretá-los, mas tal como é visível no trailer e elucidado no argumento, a narrativa não foge aos estereótipos mais sarcásticos e humoristas. Um outro modelo mais sério daria preferência a um estudo dos traumas e fantasmas enfrentados pelos protagonistas.

Logo de início, há um problema bastante evidente. Em voz-off a personagem Frances Shea (Emily Browning), em tempos mulher de Reggie, denuncia o ambiente de violência que a atormentava. Mas em vez de uma direção artística mais realista, somos colocados num ambiente londrino que mais transparece uma espécie de cidade futurista pós-apocalíptica – quase numa aproximação ao insuportável Sucker Punch: Mundo Surreal (2011), no qual Browning era também protagonista. Nele, é apenas interessante como a aristocracia e os marginais têm objectivos em comum e o facto de Frances enfrentar muitas vezes a sua mãe (Tara Fitzgerald, saída de Game of Thrones) – a única, que tal como o espectador, não acredita no romance com Reg.

De repetição em repetição, a narrativa nunca se fecha. Não há porquê disto ou daquilo. Além do mais, a pequena participação de Chazz Palminteri, ator de um ou outro filme de gangster como o caso de Um Bairro em Nova Iorque (1993) pretende elevar um género quase – mas mesmo quase – fora de moda, lembremo-nos de Black Mass – Jogo Sujo para esquecer esse facto.

A juntar a esse infortúnio, Frances sempre se reflete no espelho, mas aquilo que vemos é uma boneca de luxo. A mesma vive dependente de comprimidos, na esperança de resolver problemas tão humanos. Tal é ainda exagerado quando ocorre o plot-twist, pouco credível. A trama ostenta em mais de duas horas de duração, um certo embelezar da intriga.

Lendas do Crime não será um filme lendário, como o título original quer por vezes passar. Atente ainda às falhas na fotografia e realização, com poucos planos gerais de Tom Hardy a contracenar com Tom Hardy, dando preferência a truques com o movimento da câmara.

O melhor: Tom Hardy a interpretar irmãos gémeos.
O pior: O argumento pretensioso.


Virgílio Jesus

Notícias