Sexta-feira, 26 Abril

«3 Coeurs» (Três Corações) por Roni Nunes

Se as certezas inequívocas são as grandes vítimas do império relativista da pós-modernidade, na mesma medida o acaso tornou-se um elemento muitas vezes encontrado no cinema a partir dos anos 90. As escolhas como reféns da casualidade são o ponto central desta obra de Benoit Jacquot que, à semelhança do seu anterior, Adeus Minha Rainha, não consegue escapar a um registo morno e parcialmente falhado.

Dos “três corações” do título, um deles pertence a Marc Beaulieu (Benoit Pooelvoorde), um cobrador das finanças que começa o filme perdendo o comboio para Paris. Solitário numa cidade de província, dá por si a meter conversa com uma misteriosa transeunte (Charlotte Gainsbourg) que nem o nome lhe diz. Mais tarde vem-se a saber que se chama Sylvie e cujos laços com Sophie (Chiara Mastroianni) vêm estabelecer um verdadeiro nó górdio sentimental que constitui o centro de enredo.

Sem o interesse de produzir uma abordagem formatada de um triângulo amoroso que termina com drama e suspense, mas ao mesmo tempo esbarrando num certo esquematismo, Jacquot constrói uma obra não de todo bem-sucedida. Neste sentido, o seu uso singular de elementos fílmicos (uma curiosa utilização de uma narrativa em off que surge em momentos estranhos e o não menos bizarro uso da banda sonora que, de tempos em tempos, lembra-se de anunciar que, afinal, algo não vai bem) não melhora muito a situação. Não será dos melhores estudos sobre o assunto (veja-se o magistral Match Point, de Woody Allen, por exemplo), mas tem tensão suficiente.

O melhor: é tenso e interessante o suficiente
O pior: não é totalmente convincente


Roni Nunes

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