Sexta-feira, 26 Abril

«Blue Ruin» (Ruína Azul) por Jorge Pereira

Em 2009 um jovem cineasta dava nas vistas com a história de um verdadeiro feudo pessoal entre duas famílias que numa verdadeira escalada de violência levaria a um banho de sangue. Falo de Histórias de Caçadeiras, uma brilhante primeira obra de Jeff Nichols e um filme cujo tom encontramos por aqui neste Blue Ruin, de Jeremy Saulnier, uma fita de vingança na América sulista e que demonstra que apesar de haver uma certa padronização do comportamento cultural do norte-americano, especialmente na ideia que é exportada, ainda existem muitas bolsas de resistência onde as pessoas criam e lidam com os problemas com uma moral muito própria, seguindo uma espécie de código entre clãs. [Joe e Winter’s Bone funcionam da mesma maneira, mantendo-se sempre longe as forças da lei das quezílias pessoais].

Isso mesmo vê-se aqui, quando após matar numa casa de banho um homem por vingança, a nossa personagem principal, Dwight (Macon Blair), não tem a policia atrás, mesmo tendo deixado no local do crime mais do que provas do seu envolvimento. Ao invés, a família do falecido encobriu o crime e procura ela pelas próprias mãos a vingança.

O filme circula então em torno nisto e funciona de forma entusiasmante e tensa, não pela sua frenética ação (que não existe), riqueza de diálogos ou interpretações, mas por um ambiente profundamente isolado e claustrofóbico desta América fechada dentro de si mesmo.

Ainda assim,e apesar de existirem aqui alguns momentos onde o espírito dos Coen também é chamado, Blue Ruin nunca se desamarra de querer parecer um objeto mais estranho do que é, contribuindo para isso uma ação demasiado orientada em torno de uma personagem que, apesar de cumprir, não tem força para elevar o filme a mais do que uma proposta razoável.

O Melhor: É tenso, especialmente na cena da casa de banho no primeiro terço
O Pior: Diálogos banais e momentos em que sente uma verdadeira iniquidade da ação, como na casa da irmã do protagonista


Jorge Pereira

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