Sábado, 27 Abril

«Captain Phillips» (Capitão Phillips) por Roni Nunes

Ninguém duvida de que a história verídica do capitão Phillips cai como uma luva naquilo que Tom Hanks costuma representar. Trata-se da história de um homem comum de repente envolvido em dramáticas circunstâncias, tendo de agir sem armas e sem destruir toda gente à cacetada. Phillips é o capitão de um navio da marinha mercante que, ao cruzar as águas da Somália, é atacado por um grupo de piratas oriundos daquele país.

Chamá-los piratas talvez seja um nome demasiado pomposo: os ladrões são pescadores esfomeados (não por acaso o líder do grupo, vivido por Barkhad Abdi, tem a alcunha de “magricela”) a serviço de um poderoso senhor da guerra local, que atacam um gigantesco navio num pequeno barco (embora com armas bastante potentes). Excetuando a breve (demasiado breve…) apresentação da família numa foto e da casa do protagonista, no início do filme, a história passa-se toda no mar.

Neste sentido, o estilo de um Paul Greengrass, que emergiu de vez no cenário internacional com Domingo Sangrento, filme extraordinário que extraía uma tensão asfixiante a partir da câmara na mão, era a pessoa certa para o fazer. Ele, aliás, há de ter sido das dezenas de talentos que Hollywood recruta fora dos Estados Unidos um dos mais rápidos a adaptar-se imediatamente ao cinema de ação – o que fez com um resultado bastante aceitável no segundo filme da saga Bourne (Supremacia). Mas o cineasta voltou à grande forma foi mesmo com o seu trabalho anterior, Green Zone, um eletrizante e complexo puzzle pelas ruas de Bagdad, onde a intervenção norte-americana no Iraque ganhava uma luz bem diferente do veiculado pela comunicação oficial.

Bem mais limitado e menos ambicioso, Capitão Phillips é um filme de entretenimento acima da média, com momentos de tensão criados a partir de lugares fechados ou sem luz, para além de cair nas mãos de Greengrass uma dádiva que era um claustrofóbico bote salva-vidas com cinco homens lá dentro, com o cineasta a explorar da melhor maneira o espaço e a falta dele. O carisma dos atores somalis, por ventura o elemento mais singular da obra, também ajuda.

O problema é que, apesar destas qualidades, o filme estica-se muito para além daquilo que tem para dizer, com a velha fórmula do “refém-resgate-salvamento” a ser resolvida da maneira mais previsível possível. Os diálogos pouco ajudam: esta é uma luta onde os sequestradores caem a maior parte do tempo em contos do vigário infantis. Todo o filme é um pretexto para uma catarse final a fim de tornar Tom Hanks elegível aos Oscars. Mas até lá passam-se duas horas e meia…

O Melhor: Os atores principais (Hanks e os somalis), a capacidade de criar tensão de Paul Greengrass
O Pior: duração excessiva e final previsível


Roni Nunes

Notícias