Sábado, 27 Abril

«The Hunger Games» (Os Jogos da Fome) por João Miranda

Num futuro próximo, após algum tipo de cataclismo, uma sublevação popular teve de ser controlada de forma violenta, dando origem a um país muito desigual, onde todos os anos cada distrito da periferia tem de enviar duas das suas crianças para a capital onde se enfrentam todas até à morte nos chamados “Jogos da Fome”. Esta é a premissa do filme baseado no primeiro de um série de livros para jovens que, admito, não li e, pela que vi no filme, não tenho vontade de o fazer: se o conceito parece arriscado (apesar de não original, como o mostrou José Pedro Lopes ontem aqui), os temas são pouco explorados e faltam dentes ao que poderia ter sido uma crítica feroz ao capitalismo, aos media e a outros temas grandes da nossa sociedade actual.
 
{xtypo_quote_left}Um filme simples para uma massa simples, “distopia for dummies” {/xtypo_quote_left}As comparações com Battle Royale (filme japonês de culto feito em 2000) têm sido feitas desde que saiu o primeiro livro, mas também nesta comparação o filme lançado agora fica a perder: se o japonês é cruel e mostra que a violência é algo feio (ainda que o possa fazer de forma cómica) e que há uma corrente perturbadora de sobrevivência agressiva debaixo do fino verniz da cultura, o filme americano parece-se mais com a política de negócios estrangeiros dos USA: tentam dar-se contornos moralistas ao uso da violência e criar “maus”, para que qualquer acto de violência seja justificado de alguma forma. Apesar de tentar evitar glorificar a violência e o uso de armas, é estranho que “Jogos da Fome” se transforma naquilo que quer criticar: um espectáculo de adolescentes a tentarem matar-se uns aos outros e que nos quer fazer torcer por um deles.
 
Tecnicamente, o filme é, como seria de esperar com um orçamento milionário, perfeito e é divertido ver os cameos todos, alguns deles quase irreconhecíveis, como Lenny Kravitz, e a construção kitsch da sociedade opulenta da capital. Mais uma vez, Jennifer Lawrence mostra que é uma grande actriz, mas o papel parece quase uma cópia do que já tinha feito antes em “Winter’s Bone”: uma mãe catatónica, uma irmã mais pequena a defender, a caça, as técnicas de sobrevivência e a persistência.
 
Pode ser que a grande falha do filme seja colmatada em filmes posteriores, mas, por si só, este filme fica muito aquém do que poderia ser, limita-se a uma “distopia for dummies”, sem dentes e sem ser incómodo, a revolução pré-digerida, pronta a comer e sem quaisquer efeitos secundários. Uma pena.
O Melhor: Jennifer Lawrence.
O Pior: Perde a oportunidade de fazer uma crítica a temas que aborda superficialmente.
 
 João Miranda
 

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