Sábado, 18 Maio

Je Suis Karl: “Os fascistas estão entre nós”

“Je Suis Karl” foi exibido na Berlinale

Com uma carreira ascendente na TV e nos streamings graças a passagens por séries como “The Crown” e “Bad Banks”, além de telefilmes, Christian Schwochow teve direito a uma gala nesta Berlinale Specials para um filme que se debruça sobre os mecanismos do fundamentalismo na mecânica de atrair almas fraturadas.

Je Suis Karl” é um thriller alarmista sobre como jovens europeus são atraídos por sociedades secretas ou células supremacistas após um dilema ou um trauma. É o caso de Maxi, vivida por Luna Wedler, que acaba de perder a mãe e os irmãos numa explosão. A inaptidão do pai, Alex (Milan Peschel), de lidar com o luto, deixa a jovem perdida em inquietações. Quem vai “encontrá-la” é Karl (Jannis Niewöhner), galanteador que parece ser um cavaleiro de armadura, mas revela-se uma ponte com uma organização juvenil interessada em “soluções” para o Velho Mundo. Mas o que para ele é proposição de caminho para alguns pode ser uma violência, como explica Schwochow em entrevista via Zoom com o C7nema.

Christian Schwochow

Qual é a dimensão da solidão de uma figura como Maxi que atrai organizações radicais?

Ao identificar uma pessoa que se sente só, esses grupos oferecem um lugar de escuta e é ai que reside o perigo, pois eles vitimizam os solitários, tornando-os vulneráveis a uma ideologia de acolhimento. E quando avaliam-se os dilemas da adolescência, os riscos são maiores, ainda mais hoje em que, bombardeados de informações, os pais não sabem o que é fake news e o que não é na hora de orientar a educação dos jovens.

De que maneira “Je Suis Karl” reflete o atual estado de coisas da Europa em relação à intolerância?

O ponto central dessa narrativa é a presença de um jovem com virtudes de bom rapaz, mas que esconde um fascismo inato. Karl é um galã, um sedutor, mas carrega e espalha ideias que são violentas. E ele mostra como os fascistas sabem sempre ocupar novos espaços, sobretudo agora que os governos democráticos estão tolerantes… ou submissos… com o radicalismo. Karl não é um skinhead. É um rapaz que poderia ser visto como o bom menino da rua. Eles estão entre nós.

Como a fotografia do filme, assinada por Frank Lamm, lida com o colorido de um mundo em ebulição?

Sem filtros de estilização, sem lentes que carreguem a imagens de distorções. Queria o realismo máximo, deixando que a minha engenharia de som isolasse as perceções sensíveis daquele mundo de ruídos, de vozerios. A câmara sempre ficava livre, fomentando ao máximo a liberdade dos atores.

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