Segunda-feira, 20 Maio

Gabriel D’Almeida Freitas e a “magia” de Xavier Dolan

"Matthias e Maxime" chega esta semana às salas nacionais

O nome não engana. Nascido no Canadá, Gabriel D’ Almeida Freitas tem ascendência portuguesa, e embora a sua ligação com o país esteja principalmente ligada à comida (da qual é fã), ainda ambiciona aprender a falar o português.

Com vários trabalhos na televisão local, Gabriel D’ Almeida Freitas teve em “Matthias e Maxime” o seu primeiro grande papel no cinema, tudo sob as ordens do seu amigo Xavier Dolan.

Tivemos a hipótese de falar com este jovem sobre a sua experiência em trabalhar com o realizador, como isso ajudou-o a ser um melhor ator, e ainda abordamos as suas ambições e projetos.

O Gabriel é amigo do Xavier [Dolan]. Como entrou no projeto “Matthias e Maxime”?

Estava a trabalhar num programa de TV na Indonésia e Dolan escreveu-me a dizer que estava preparar um filme e que tinha pensando em mim. Basicamente acreditei que uma personagem o fez pensar em mim, mas não pensei que seria para desempenhar o Matthias. Quando voltei, fomos almoçar juntos, falou-me sobre o filme. Alguns dias depois estava na sua sala de estar, o Xavier abriu o seu laptop e leu o filme inteiro, interpretando a personagem e colocando a música que queria [no filme]. Estava no sofá e ouvia-o a contar a história. Foi mágico.

Xavier Dolan já é um nome estabelecido no cinema mundial. Isso trouxe-lhe uma pressão extra, já que foi o seu primeiro papel principal no cinema?

Sim e não. Sabemos o que os filmes do Xavier representam internacionalmente, mas, como em qualquer projeto que participo, dou 100%. Mas sim, a sua apreensão stressou-me um pouco, mas desde o primeiro dia de filmagens tudo foi dissipado e substituído por puro prazer. Adoro atuar e lá estava com os amigos e uma grande equipa técnica. Não podia desejar melhor

Há muita repressão dentro da sua personagem. Como colaborou com o Xavier para desenvolver e mostrar ao público essa frustração dentro do Matthias?

O Xavier tem uma força para escrever diálogos que às vezes dizem pouco, mas significam muito. Quanto mais o filme avança, mais a personagem do Matthias se fecha em si e vive mais intensamente as suas emoções internas. O Xavier sabia que a minha força era o ser capaz de interpretar muito em poucas palavras, com um olhar, com respirações, silêncios, e desde a primeira leitura do texto que deu para ver muito bem onde ele queria levar a personagem.

E como foi o ambiente no set de filmagens? Por exemplo, como foi filmar a cena de sexo com um amigo que também é o realizador?

A atmosfera no set era excecional. O Xavier está no seu oitavo filme, a sua equipa técnica é muito eficiente, divertida e profissional. Como ator, como já nos conhecíamos na vida, muitas vezes era difícil manter a seriedade. É tão divertido filmar com amigos, confiamos um no outro, rendemo-nos e damos o melhor de nós mesmos para que o outro possa ter um bom desempenho.

A cena de sexo entre a personagem do Matthias e do Maxime foi muito poderosa de filmar. Houve uma pequena pausa, foi uma cena longa, para que pudéssemos trazer algo sincero que fizesse acreditar no grande ecrã. Reproduzir esse tipo de cena com um amigo é menos difícil do que com um estranho. Tendo filmado cenas de intimidade com outras atrizes que conhecia menos, o deixar-se levar é mais fácil com um amigo. Nenhum julgamento, um respeito muito sincero um pelo outro. Acredito que é o que faz a veracidade dessa cena.

O ambiente divertido nas filmagens de Matthias & Maxime

Acha que com esta experiência no set do “Matthias & Maxime” tornou-se um ator melhor?

Completamente. Aprendi muito naquele set e, ao contrário dos programas de TV em que estamos mais próximos, neste filme, tivemos tempo para explorar, divertir-nos com as falas, arriscar. O Xavier guia-nos bem, ele sabe o que quer, conhece os seus pontos fortes e fracos, e leva-nos a sermos melhores atores e a criar momentos mágicos.

Quais são seus novos projetos? Pode falar um pouco sobre o seu futuro?

Filmava (antes do Covid) três programas de TV no Quebec. De momento, está tudo em espera. Eu trabalho mais como ator do que qualquer outra coisa. No entanto, tenho vários outros projetos, mas o que prefiro é atuar.

Sou autor [dos textos] para um humorista muito conhecido no Quebec. Então, eu trabalhei com nos seus textos, e estou a desenvolver dois projetos de TV; um onde sou simplesmente um designer e o outro onde sou um autor e ator. É uma série humorística de sketches.

Além disso, trabalho num programa de TV também com sketches, mas sem palavras, que deve ser vendido para vários países do mundo.

Tem a ambição de trabalhar fora do Canadá, por exemplo, nos Estados Unidos ou na Europa?

Nos Estados Unidos, não, mas na Europa, sim. Tenho contatos em França para trabalhar lá. De momento, tudo está um pouco mais lento devido ao Covid-19, mas sim, gostaria muito de trabalhar na Europa.

O Gabriel tem raízes portuguesas, mas admitiu em certas entrevistas que o Quebec prevaleceu na sua educação. Já esteve aqui [em Portugal]? O que é Portugal para si?

Sim, já estive em Portugal oito vezes. Sete vezes nos Açores com a minha família e uma vez no continente. Amo a cultura portuguesa, mas estando no Quebec, não tínhamos muito acesso ao conteúdo artístico português.

No entanto, fui para uma escola portuguesa em Montreal durante dois anos para aprender a língua, mas preferi mais fazer os meus colegas rir ao fingir falar português do que realmente em aprender. Por isso não falo português.

No entanto, gostaria de realmente aprender português, mas os professores em Montreal falam português do Brasil e eu gostaria de aprender português de Portugal. Portugal para mim é muito a comida. Os meus pais são portugueses, comemos muitos pratos portugueses e, muitas vezes, pratos de Quebec feitos à portuguesa.

Estamos a viver um período de pandemia e você é um ator. Como esta pandemia afetou o seu trabalho e vida?

Isto afetou completamente [tudo]. Não trabalho desde o início de abril. Tudo o que é programa de TV foi suspenso para todos os atores no Canadá. Fiz uma pausa para recarregar as baterias, ler e principalmente escrever. Escrevi quase 200 sketches para uma série de TV e outros projetos. Fiquei feliz nas duas primeiras semanas com as férias, mas depois disso quis criar. E foi o que fiz.

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