Sexta-feira, 17 Maio

No “limbo”, Kirill Serebrennikov diz: “o mais importante é que estou a trabalhar”

Acredita em mim, o livro é bem mais complexo que o filme”. Estas palavras são as de Kirill Serebrennikov ao C7nema numa entrevista via Zoom em Cannes, onde o seu filme concorria à Palma de Ouro, mas ele não podia estar presente.

Sentenciado a três anos de prisão, mas sob pena suspensa, o cineasta que entrou em colisão com o regime russo pode trabalhar livremente no território, mas está formalmente proibido de sair dele.

Kirill Serebrennikov

Estou no Limbo, como o Petrov no filme. Sou livre na Rússia, mas não posso sair de lá. Estou algures entre dois estados.”, disse-nos, acrescentando que está feliz pois o mais importante foi conseguido:  “Para mim o mais importante é que estou a trabalhar. No dia de estreia do filme em Cannes, fizemos umas filmagens aqui em Moscovo A nossa equipa passeou aqui por um tapete vermelho enquanto ia vendo imagens reais do tapete vermelho de Cannes. Foi divertido (risos).”

Baseado num romance do autor russo Alexei Salnikov, “Petrov’s Flu” movimenta-se entre realidade e imaginação e vários tempos na vida de um artista de banda desenhada e da sua família na Rússia pós-soviética. “O livro é bastante complexo e aborda vários períodos da vida da personagem: o passado mais próximo, o mais distante, além do presente e a imaginação. Inevitavelmente, a estrutura do filme é também complexa, mas gosto de cumplicidade em arte, neste caso vinda do livro, que nos mostra uma não binaridade das coisas, o preto ou branco, o bom ou mau, Deus ou o Diabo. Isso foi muito divertido, desafiante e excitante para criar este mundo do ‘Petrov’s Flu’. Nele existem várias camadas de realidade, delírio, ilusões, vida real e o seu passado.

Definindo os seus filmes, incluindo “Leto” e “Petrov’s Flu”, mais sobre o presente do que sobre o passado, o realizador não considera que durante as filmagens – enquanto estava  a viver o caso  judicial que o sentenciou – tenha sido particularmente difícil gerir a sua vida e trabalho: “Odeio os artistas que dizem que a arte é complicada, etc. Sou filho de um médico, um cirurgião. Isso sim é complicado. Para mim filmar enquanto estava a ultrapassar todas aquelas questões, foi a forma ideal de escapar da minha vida paralela”.

Já a trabalhar num novo projeto, Kirill Serebrennikov falou um pouco sobre ele, afirmando que apesar da sua forma de filme de época, mais uma vez retrata uma história do presente. “O meu novo filme passa-se no século XIX e segue uma mulher que está apaixonada por um músico. Ela dá em louca com a sua obsessão pelo amor. Música, aventura e amor. São estes os temas. Ele será financiado independentemente, tal como os meus outros filmes. Eles nada têm a ver com o Ministério da Cultura da Rússia.

Quanto ao seu futuro, o realizador brinca e diz que espera poder visitar um festival de cinema quando a fita estrear, mas não faz atualmente planos de longa-duração para a sua vida. “Há ano e meio tínhamos imensos planos sobre o futuro e de repente tudo mudou por causa de um estranho morcego na China, por isso prefiro não fazer planos de longa duração. Quero viver o meu dia a dia e aconselho todos a fazerem o mesmo.”.

Petrov’s Flu” tem distribuição assegurada no nosso país.

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