O travo do cinema indie, particularmente na última década, tem produzido inúmeras obras com esse título mas com toda uma postura estesticamente padronizada que tornou esse cinema quase num género per se. “Dinner in America” não esconde essa engenharia indie, não tanto na forma e conteúdo, mas no espírito de irreverência e anarquia em fugir à normatividade, mesmo que para isso revisite a cultura do “bad boy” e a“nerdy girl” tão presente desde os anos 70 e 80 na cultura cinematográfica, e que ganhou novo fôlego com a explosão indie dos anos 2000.

O foco aqui é Simon (Kyle Gallner), um punk-rocker com gosto pelas droga que faz todos os esquemas para angariar dinheiro – incluindo participar em experiências laboratoriais – numa Região Centro-Oeste dos Estados Unidos da América em profunda decadência económica, social e moral. No meio das suas artimanhas ele vê-se perseguido pela polícia e encontra refúgio na casa de Patty (Emily Skeggs), uma jovem pouco popular, maltratada genericamente por todos quem se cruza (colegas de escola, de trabalho), mas que é fã da banda onde Simon atua. O “catch” aqui é que o vocalista dessa banda não mostra o rosto, e por isso Patty não sabe que a pessoa que está consigo é o homem que tanto adora.

Sexo, drogas e rock ‘n’ roll sempre moveram muito o cinema da chamada contracultura e aqui alinham-se novamente os astros para mostrar mais uma vez jovens em conflito com a família e uma sociedade cada vez mais sedentária e regulamentaria, enquanto tentam encontrar o seu espaço nela e uma definição mais apropriada do que realmente são e querem.

É assim nestes terrenos indie, nas margens e restos do sonho americano despedaçado que “Dinner in America” cambaleia, havendo resquícios de filmes como “Cry Baby“, “Repo Man” e “Napolean Dynamite” (nas personagens fora da órbita social) para contar uma pequena história que poderia igualmente ser uma parte dos famosos “Short Cuts” de Robert Altman se fossem filmados nos anos 2000.

A banda-sonora, a cinematografia e a montagem acentuam toda uma atmosfera entre o real e o surreal, sempre com um humor descortês, como quem não tem o mínimo interesse chegar às massas, mas pretende permanecer no campo do culto de um nicho. E na longa tradição do punk-rock no cinema, “Dinner in America” é uma interessante segunda faixa para Adam Carter Rehmeier depois de um “primeiro tema” chamado “The Bunny Game” (2011).

Pontuação Geral
Jorge Pereira
dinner-in-america-amor-e-sobrevivencia-num-midwest-em-decadenciaNa longa tradição do punk-rock no cinema, “Dinner in America” mostra o amor a sobrevivência numa Região Centro-Oeste dos Estados Unidos da América normativa e em profunda decadência