O suícidio coletivo de Heaven’s Gate assombra The Lodge, cujos caminhos também encontram a narrativa obtusa de Hereditary, mas cujo saldo final da não-linearidade não é especialmente compensador

O início é de grande brutalidade: Laura (Alicia Silverstone) não suporta ter sido trocada por outra mulher e atira contra si própria depois de sentar-se calmamente na mesa de jantar. Quem fica para trás são os filhos, o adolescente Aidan (Jaeden Martell) e a menina Mia (Lia McHugh) que, previsivelmente, não vão lidar da melhor forma quando, seis meses depois, o pai (Richard Armitage) decide que eles terão de conviver com Grace (Riley Keough), por quem a mãe foi trocada.

O mal-estar acentua-se quando fica estabelecido que passarão juntos a véspera de Natal numa casa nas montanhas mas o pai terá de sair abruptamente e os três terão de lidar uns com os outros. Grace (Riley), no entanto, está longe de parecer uma vilã e surge calma e serena para tentar lidar da melhor forma com a situação. Algo que, a partir de certa altura, começa a mudar…

Apesar de uma premissa adequada para um enredo tradicional, os realizadores austríacos Veronika Franz e Severin Fiala a partir de certa altura começam a deixar claro que estão longe de interessar-se por uma história linear – o que em si não é nem bom nem mau. Durante muito tempo contentam-se em documentar o quotidiano dos três, onde alguns factos se destacam (o sonambulismo de Grace, por exemplo) enquanto vai criando um mundo de claustro físico através de tempestades de neve permanentes que enclausuram as personagens. A dada altura estranhos fenómenos começam a acontecer, especialmente um de consequências fatais.


The Lodge é um filme prejudicado pelo argumento, que deixa muitas ramificações mal explicadas e acaba por comprometer o envolvimento do espectador – especialmente quando a ideia é contar uma história com contornos menos óbvios. De todo modo, existe interesse na forma como se liga a clausura física (as tempestades permanentes que cercam a casa e os protagonistas) com o mergulho de Grace num passado inacreditável que vai às profundezas do fanatismo religioso, da culpa levada à loucura e de um presente condicionado por isso tudo e que vai se tornando cada vez mais violento e imprevisível.

Pontuação Geral
Roni Nunes
the-lodge-por-roni-nunesThe Lodge é um filme prejudicado pelo argumento, que deixa muitas ramificações mal explicadas e acaba por comprometer o envolvimento do espectador – especialmente quando a ideia é contar uma história com contornos menos óbvios.