Depois de um primeiro filme onde a maior dificuldade da crítica era não ceder a elementos capazes de enfraquecer o poder de surpreender, eis que surge – cinco anos depois – uma sequela onde o mais difícil de expor é o facto de que no meio da espetacularidade das criaturas e sequências de ação são as interações e relações humanas em jeito cliché o elo mais fraco.

Não tem sido fácil a infância e adolescência de Millie Bobby Brown. Em Stranger Things é Eleven, uma criança submetida a testes militares num Universo onde um mundo invertido aterroriza um grupo de jovens, os seus familiares e amigos. Infelizmente para a jovem, as coisas não melhoram neste Godzilla 2: O Rei dos Monstros, já que a personagen de Millie vai encontrar-se dividida entre as ações da sua mãe, a Dr. Emma Russell (Vera Farmiga), e o pai, Mark Russell (Kyle Chandler), isto num planeta à beira do colapso com seres monstruosos a serem despertados um pouco por todo o lado.

Godzilla, o rei dos monstros do título, está de volta a esta aventura e com ele mais criaturas, isto após a ação de um grupo as despertarem. A razão para isso? Perguntem a Michael Dougherty, certamente um fã de Thanos de Os Vingadores, pois mais coisa, menos coisa, o sentido e pensamento aproxima-se em demasia.

Mas o que mais aborrece por aqui é o drama familiar que converge com o universo dos monstros, corroendo – pouco a pouco – toda a nossa atenção e paciência. É que na sua vertente de filme de ação e fantasia, as coisas não correm mal, até porque as sequências de ação são energéticas, as criaturas espetaculares, e as lutas revelam-se o prato forte de um filme tendencialmente escuro na cinematografia (melhor para esbater imperfeições). Já a tal vertente humana cede a todos os facilitismos e lugares comuns, não faltando até aquilo que se podem chamar os sacrifícios lamechas à procura de manipular os sentimentos através da lágrima fácil.

Por outro lado, e isto sim é bizarro, Godzilla 2 tem a estranha habilidade de abordar bombas nucleares como uma chuvada em maio. Sim, por aqui estes engenhos são observados como uma espécie de carregador de telemóvel, ou, se calhar, ainda mais próximo, um desfibrilador, que se usa sem qualquer consequência visível (para o qual o argumento encontra uma solução relâmpago e idiota já nos créditos). Assim, e conscientemente, estamos perante mais um trabalho assumidamente militarista “à norte-americana” que finge preocupações ambientais (uma saga que nasceu no Japão do pavor atómico, render-se às armas como solução), onde quase todos os elementos desafiam a lógica e são tapados pela capa fantasista inerente ao conceito.

Resumindo, temos assim uma monstruosa desilusão, um retrocesso quase à equação espalhafatosa, absurda e emocionalmente piegas que o senhor Roland Emmerich nos entregou no seu Godzilla de 1998. Que Gareth Edwards regresse depressa e esqueça o trambolhão que deu em Rogue One: Uma História de Star Wars.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
godzilla-king-of-the-monsters-godzilla-2-o-rei-dos-monstros-por-jorge-pereiraUm regresso espetacular de Godzilla, mas muito atabalhoado nas interações humanas