Depois de “Kebab & Horoscope” em 2014, o polaco Grzegorz Jaroszuk surge em 2021 na competição East of the West de Karlovy Vary com “Bliscy” (Dear Ones), uma fábula negra, mas igualmente doce, que o próprio confessa ter encontrado inspiração no cinema nórdico para analisar relações familiares há muito quebradas e que se voltam a reconstruir.

No centro da questão está o desaparecimento da esposa de Olaf (Olaf Lubaszenko), um homem de meia idade que derivado a isso convoca os seus filhos há muito afastados, Marta  (Izabela Gwizdak) e Piotr (Adam Bobik), para o ajudarem a encontrar a mulher, que ele crê ter fugido dele.

Piotr é o mais abalado com tudo. Afastado dos pais e da irmã há vários ano, refugia-se em superstições e teorias muito próprias do universo como a das duas pedrinhas que carrega impedem que algo de mal lhe aconteça e trarão algo bom no dia seguinte. Mais pragmática, Marta é a primeira a colocar em marcha a ideia de ação, de busca da mãe, partindo todos – entre conversas com os vizinhos da região de blocos de apartamentos em que os pais vivem – no encalço do paradeiro da mãe.

A verdade é que no meio de conversas e detalhes sobre a progenitora com vários individuos, os filhos vão descobrindo detalhes omissos da vida dela, como o facto de ela ter emprestado dinheiro a quase todos e agir de forma correta com eles na devolução dessas somas monetárias. Além disso, ela ajudava bastante esses mesmos vizinhos no combate a diversas adições, como ao jogo.

Bliscy” é um filme de descobertas, não somente de segredos familiares, mas de nós próprios quando confrontados com a bondade dos seus atos. O realizador usa o colorido da vida da matriarca para contrastar visualmente com o espaço cinzento em que ela habitava, usando frequentes tons negros e escuros que nos levam a um thriller dramático com o suave toque de um humor negro que normalmente encontramos mais no cinema da Islândia, Dinamarca e Noruega.

No final estamos assim perante um filme curioso carregado de mistério e (auto)descoberta, sempre assente em boas interpretações, mas que perde algum fulgor com a revelação final, a qual de certa maneira retira força a tudo o que vimos antes. Mas se aí o cérebro e engenho narrativo saem um pouco de cena, surge em força um enorme coração, unificando – nem que seja por breves instantes- uma família há muito  desunida.