Complexo falar de “The Story of Looking”, um objeto extremamente pessoal do historiador e realizador Mark Cousins, cujo “Women Make Film: As Mulheres Fazem Cinema” chegou a Portugal em abril passado.

É num espaço de profunda intimidade que Cousins nos recebe, na sua cama, partilhando connosco – sempre de forma poética e sob influência de um drama real – como  ​​descobriu que tinha um problema de visão, uma catarata grave, que o obrigou a ponderar sobre a vida, as relações, a história, a arte, as ciência, a tecnologia e até a perceção das coisas mais ínfimas, como as pequenas invisibilidades que escapam normalmente no quotidiano, como o homem que, num telhado, colado a uma chaminé, o fascina e amedronta, levando-o a tentar decifrá-lo, com o seu quê de Kuleshov na tentativa de adivinhação do porquê de estar ali.

O movimento, essa passagem de potência a ato como diria Aristoteles, que conduz as nossas ações e define (e forma) a arte que tanto o fascina, o cinema, torna-se um objeto mais de meditação que de verdadeira análise, trafegando Cousins entre monólogos diretamente conduzidos para a câmara e aquelas imagens (da história do cinema, ou não) que marcaram a sua existência e construção pessoal, como que explorando o papel da experiência visual nas nossas vidas individuais e coletivas.

Não escapam ainda dissertações e ensaios sobre imagens que saem frequentemente da área da arte, também elas cada vez mais transformadas evolutivamente à velocidade das redes sociais, mas todas cada vez mais baças para o cineasta devido à sua doença.

É um filme, um testemunho, uma interrogação, muito, muito bela, que invade os sentidos e provoca numa hecatombe de emoções, especialmente quando a pandemia entra em cena e volta a condicionar o nosso olhar perante o mundo e nós próprios.

Imperdível.