Curta-metragem entre a ficção e o documentário, com apenas 25 minutos, “Ali and His Miracle Sheep” funciona como alegoria lírica sobre a vida do Iraque atual, através da utilização de figuras simbólicas que produzem um retrato de um país traumatizado e em sofrimento após uma transição de poder marcada por uma guerra sangrenta.

O foco é o jovem mudo Ali, de apenas 9 anos, que pede à avó para fazer uma marcha de 400Km para sacrificar a sua ovelha, Kirmeta, em nome de conduzir a alma do pai falecido. Mas essa ovelha, que mal se aguenta em pé é muitas vezes é transportada numa cadeira de rodas, é rejeitada por um clérigo, que lembra rapaz e o seu irmão mais velho, Hassan, que é proibido matar/sacrificar uma ovelha doente. 

A ovelha chega a desmaiar de exaustão e as pessoas pensam que está morta, mas quando ela “retorna à vida” grita-se “milagre”, cantando-se e dançando-se durante o trajeto, levando a jornada do rapaz e da sua ovelha para uma nova esfera, não apenas a do filme pessoal de amadurecimento (coming-of-age), mas de descoberta de um país que entre ruínas, mortos e uma situação política ainda instável espera provar, finalmente, o sabor da liberdade.

Filme bonito, característico no cinema desta região pela presença de personagens guiados para aventuras ímpares, coincidências e tropelias, “Ali and His Miracle Sheep” funde o olhar de observação com o cinema neorrealista para nos traçar a história de um rapaz, que acaba por ser também metafórica em relação a uma nação, onde drama, comicidade e descoberta pessoal alternam suavemente e de forma orgânica.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
ali-and-his-miracle-sheep-alegoria-lirica-sobre-o-iraque-atual“Ali and His Miracle Sheep” funde o olhar documental de observação com o cinema neorrealista para nos traçar a história de um rapaz, que acaba por ser também metafórica em relação a uma nação