Esta semana a programação da Cinemateca é marcada pelo fecho de vários ciclos, para que a partir da próxima se abram outros tantos. São as últimas oportunidades para partirmos n’ “ Uma Viagem pelo Cinema da Eslovénia”, para conhecermos a obra da realizadora Jacqueline Audry, e para relembrarmos “Dirk Bogarde – O Ator das Sombras”.
O primeiro desses ciclos, preparado em colaboração com o Slovenian Film Centre e o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Eslovénia, surge a propósito da celebração dos 30 anos de independência desse país. O enfoque é sobretudo histórico, selecionando-se alguns momentos importantes entre os anos 1940 e os anos 1980 do cinema feito na Eslovénia, mas inclui também um apontamento contemporâneo, com filmes de produção muito recente.
Já a retrospetiva sobre Jacqueline Audry foi organizada com a 22ª Festa do Cinema Francês e o Institut Français. Audry (1908-1977) foi uma das mais produtivas realizadoras do século passado, assinando uma obra que olha de forma atenta a perspetiva feminina no cinema, através sobretudo de personagens marcadas pela emancipação. Sendo a única mulher com uma produção regular de cinema na França da época, Audry atravessou a cronologia do cinema francês desde a Ocupação até à Nouvelle Vague, sempre desalinhada das convenções. A atitude livre, a perspetiva transgressora, a sexualidade e o olhar feminista destacam-se na sua filmografia, bem como o perfil irreverente das suas protagonistas – quase invariavelmente mulheres –, um sentido de mise-en-scène, e a subversão dos códigos.
Por fim, o centenário do nascimento de Dirk Bogarde, um dos atores mais marcantes do cinema britânico do período pós-II Guerra, é recordado em dez paragens por momentos que se contam entre os mais importantes da sua carreira.
Estas são as nossas sugestões para as sessões a decorrer na semana de 11 a 16 de outubro:
King & Country (1964) – Segunda-feira, 11 de outubro, 21h30, Sala M. Félix Ribeiro. Realizado logo a seguir a “The Servant”, “King & Country” volta a associar Joseph Losey e Dirk Bogarde, mas agora num ambiente muito diferente. Baseado numa história verídica sucedida durante a I Grande Guerra, o filme põe Bogarde na pele do advogado de defesa de um soldado britânico acusado de deserção. Crítica das instituições militares, libelo anti-militarista e pró-pacifista, foi um filme polémico em vários quadrantes (em Portugal, por exemplo, nem sequer estreou) e é um dos mais poderosos filmes de Losey. Tom Courtenay, que interpreta o soldado desertor, ganhou o prémio de melhor ator no Festival de Veneza de 1964. O filme voltará a ser exibido na terça-feira, 19 de outubro, pelas 15h30 na Sala M. Félix Ribeiro.
Darling (1965) – Terça-feira, 12 de outubro, 21h30, Sala M. Félix Ribeiro // Quinta-feira, 14 de outubro, 15h30, Sala M. Félix Ribeiro. Um dos filmes mais célebres de John Schlesinger, recompensado com três Oscars da Academia: argumento (Frederic Raphael), guarda-roupa e melhor atriz (Julie Christie). Plenamente imbuído de um certo espírito libertário associado aos sixties, “Darling” conta a história da ascensão da “plebeia” Julie Christie, que, de amante em amante, acabará por casar com um aristocrata italiano.
Druzina (A Família, 2017) – Terça-feira, 12 de outubro, 19h00, Sala M. Félix Ribeiro. Trata-se de um filme de realismo intenso que segue a vida de um rapaz entre o fim da adolescência e os primeiros anos da vida adulta, quando casa, tem filhos e, depois, se divorcia. Sem contemplações, é um filme sobre a violência social, absorvida por um protagonista que é sempre um enigma, espécie de homem “sem qualidades”, nem “herói” nem “anti-herói”. Através dele, passa um retrato particularmente devastador da vida contemporânea (e não apenas a eslovena).
Huis-Clos (1954) – Quarta-feira, 13 de outubro, 19h00, Sala M. Félix Ribeiro // Sexta-feira, 15 de outubro, 15h30, Sala M. Félix Ribeiro. A partir da obra original de Sartre, rodado em Paris e na Côte-d’Azur, este e o filme em que três seres entre si desconhecidos, Inès (Arletti), Garcin (Franck Villard) e Estelle (Gaby Silvia), são fechados no mesmo compartimento que será murado, compreendendo a maldição individual na companhia inelutável dos restantes e das memórias de cada um. Estas, terrenas, surgem visuais e sonoras no ecrã que se abre entre as cortinas da janela da sala de estar, como um ecrã de cinema. A ideia da projeção cinematográfica é verbalizada pelo “mordomo” que, sendo preciso, surge na sala de estar dos três seres até que a câmara suba num último movimento que fixa o infernal cenário entre os vapores do lugar dos condenados a penas eternas.
Despair – Eine Reise ins Licht (A Segunda Dimensão, 1977) – Sexta-feira, 15 de outubro, 21h30, Sala M. Félix Ribeiro. Foi o primeiro dos três filmes que Rainer W. Fassbinder fez em inglês e marca a sua primeira tentativa de fazer uma “produção internacional de prestígio”: uma vedeta internacional no papel principal e valores de produção mais ricos do que os dos filmes que fizera até então. Situada na Alemanha dos anos 1930, a história adapta um romance de Nabokov e trata de uma tentativa de mudança de identidade: o proprietário de uma fábrica, à beira da falência, decide matar um mendigo e assumir a sua identidade, mas escolhe, curiosamente, um homem com quem tinha muito poucas semelhanças físicas.
La Garçonne (1957) – Sábado, 16 de outubro, 21h30, Sala M. Félix Ribeiro. Quando estreou foi um escândalo e um grande sucesso público. A história de Monique (Andrée Debar) é a de uma mulher que, descobrindo a infidelidade do noivo, decide viver autonomamente a sua vida financeira e pessoal, nela incluídas as relações amorosas e sexuais. “Considero o romance de Victor Margueritte como a primeira etapa da emancipação da mulher”, disse na altura Audry referindo-se ao escritor da obra de 1922 que o argumento adapta e que então valeu a Margueritte acusações de atentado à honra e à ordem (bem como a retirada da distinção da Legião de Honra francesa). Na segunda-feira, 18 de outubro, haverá uma segunda projeção às 21h30 na Sala M. Félix Ribeiro.
