Sexta-feira, 3 Maio

Documentário mostra a luta diária de Selma Blair contra a Esclerose Múltipla

“Introducing Selma Blair” foi exibido no SXSW e foi adquirido pelo Discovery +

Estávamos em 2018 quando, numa mensagem no Instagram, a atriz Selma Blair revelou que foi diagnosticada com Esclerose Múltipla. “Estou inválida. Caio às vezes. Deixo cair coisas. A minha memória é nebulosa. E o meu lado esquerdo está a pedir direções a um GPS estragado. Mas vamos andando”.

Selma Blair em “Hellboy

Conhecida por filmes como “A Coisa Mais Doce” e “Hellboy”,  sempre ao serviço de outras personagens, como ela mesmo diz a meio de “Introducing Selma Blair”, as primeiras imagens neste documentário são de humor e vaidade, mas rapidamente o corpo da atriz começa a ceder, a agir de forma errónea, e as palavras começam a tropeçar na sua boca. Neste instante, temos um impacto demolidor: esta não é a Selma Blair que chegou até à nossa perceção através do cinema, sempre a transpirar jovialidade e um sentido de ironia muito próprio, fosse em “Legalmente Loira” ou Estranhas Ligações”.

A doença. Fortemente degenerativa, já se sentia bem antes de 2018. Ela mesmo fala e mostra um episódio num desfile de moda em que a sua perna esquerda cede, sem qualquer explicação. A partir daqui, a realizadora Rachel Fleit viaja pela vida pessoal da atriz ao longo dos últimos anos, mostrando os colapsos que sofreu – como num avião, onde misturou álcool e drogas e sofreu um “apagão” – até o início do tratamento com células estaminais e várias jornadas de quimioterapia, nas quais – devido à fraqueza do sistema imunitário – teve de se afastar do contacto com os seus amigos e família, devido ao perigo de infeção. E há momentos de extrema ternura, quando deixa o filho cortar-lhe o cabelo para evitar que assista à inevitável queda devido à quimioterapia associada.

Sempre me senti num reality show antes deles existirem. e sempre me senti num documentário com Deus como o único espectador. E ele desaprovava [a minha vida].

Selma Blair em “Introducing Selma Blair

E chegamos mesmo ao tempo em que se começa a falar da Covid-19, com Selma desterrada num hospital a tentar controlar a doença, nunca perdendo a esperança, mas sempre mantendo um alto índice de realidade quanto ao seu futuro. Também conhecemos um pouco a sua relação tensa com a mãe, que faleceu durante o seu processo de tratamento, mas que frequentemente “chama para conversas”, imaginando cenários onde a matriarca a critica.

Selma Blair

Documento pessoal e testemunho da vida de uma mulher e da terrível doença que carrega, “Introducing Selma Blair” funciona bem pela honestidade e às vezes até pela brutalidade com que a atriz relata a sua situação, seja nos risos, seja nas lágrimas e exposição de dor (física e psicológica).

E Rachel Fleit nunca cai na exploração de um drama humano, nem tão pouco na mera homenagem, ou ainda no objeto de linguagem televisiva rasca munida a “cabeças falantes”, como por exemplo o documentário “Demi Lovato: Dancing With The Devil” apresentou na abertura do festival texano.

Por isso, “Introducing Selma Blair” merece uma olhadela delicada e sensível, um pouco como há 8 anos atrás o documentário “Jason Becker: Not Dead Yet” o fez para mostrar a degradação completa do corpo do  guitarrista neo-clássico americano, que numa fase avançada da mesma doença já só conseguia mexer os olhos.

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