Sexta-feira, 19 Abril

Salvar o futuro: a saga ‘Terminator’

 

 


Próximo dia 4 de Junho estreia em Portugal “Terminator Salvation”, a quarta entrega de uma da sagas mais marcantes do imaginário da ficção científica – 25 anos depois de Arnold Schwarzenegger ter dito uma das frases mais celebradas da sétima arte: “I’ll be back”.

Sem Arnold e sem o realizador James Cameron (“Terminator 1 e 2”, “Aliens”, “Titanic”), “Terminator Salvation” é sequela e prequela ao mesmo tempo da trilogia original. Confusos? Não se preocupem que tudo será explicado, nesta pequena retrospectiva a uma das séries mais inquietantes de Hollywood – uma batalha através do tempo e com a humanidade sempre em risco de extinção.

The Terminator (1984)

Los Angeles, 2029. A cidade está em ruínas, os céus escurecidos com uma nuvem de fumo enorme. Esqueletos humanos por toda a parte. Máquinas caminham por entre os escombros.

Los Angeles, 1984. Dois homens aparecem em pontos distintos da cidade, emergidos de um bizarro incidente eléctrico. Sem hesitação, ambos correm para descobrir uma mulher chamada Sarah Connor. Um quer matá-la, o outro protege-la. E só um deles é que é um ser humano…

É esta a premissa de “Terminator” (O Exterminador Implacável), o filme de James Cameron que conquistou o mundo em 1984 e que ficou para sempre nos dicionários da ficção científica, do cinema e até do “léxico” mundial. Sim, do léxico. Quando o filme estreou na Polónia, o distribuidor local decidiu mudar o seu título para algo como “O Assassino Eléctrico” pois o termo inglês “Terminator” era foneticamente igual ao equivalente polaco de “O Aprendiz”. Quando em 1992 surgiu a sequela, o título já não foi alterado pois “Terminator” passara a significar em polaco “Arnold Schwarzenegger”.

Um robot a emergir do fogo – a inspiração

James Cameron teve a ideia de ‘The Terminator’ quando estava na cama do seu hotel em Roma, doente, durante a pós-produção de ‘Piranha II’, a sua estreia na realização datada de 1980.

“Foi uma ideia que me atingiu e que cresceu muito depressa – todo o conceito. Levei muitos meses a definir as personagens, mas os detalhes do cenário e da acção surgiram de rompante”, recordou Cameron na promoção de ‘Terminator 2’.

Como criança, ele sonhava ser um artista de ‘comic books’, e justificou assim que todo o seu trabalho vem de ele ser um criativo muito visual. “Todo o conceito do ‘Terminator’ cresceu a partir da ideia de um robot a emergir do fogo”.
Mas o “esqueleto metálico” que Cameron imaginaria teria que ser futurista, e em 1981 o jovem realizador sabia que não conseguiria financiamento para um filme nas linhas fantásticas e ambiciosas de outros filmes da época, como “Blade Runner”. Por isso, a sua ideia passou por “trazer o futuro até ao presente”, para que a sua visão de um robot em chamas pudesse ocorrer na actualidade. E aí surgiu a ideia das viagens no tempo, que viria a fascinar o realizador na altura de escrever o primeiro ‘draft’ do filme.

Inspirado por históricas de ficção científica como “I Have no Mouth and I Must Scream” de Harlan Ellison e “Second Variety” de Philip K. Dick (o autor do livro que deu origem a “Blade Runner”), Cameron viria a criar um mundo elaborado e fascinante, o qual viria a dar origem a outros filmes, uma série de TV (‘The Sarah Connor Chronicles’ de 2007), videojogos, séries bem sucedidas de ‘comics’ e toda uma legião de culto. Ellison chegou a processar Cameron por plágio – tendo tudo ficado resolvido com um crédito a “inspirado por ideias de”.

 
 
 
 
 
No filme seguimos Kyle Reese, um soldado que viaja de 2029 para 1984 para salvar Sarah Connor, a futura mãe de John, o salvador da humanidade. No imaginário de ‘Terminator’, uma empresa chamada Cyberdine Systems cria, nos anos 90, a forma derradeira de inteligência artificial chamada Skynet, a qual provoca um holocausto nuclear. No mundo sombrio, onde as máquinas tentam dominar e escravizar a humanidade, John Connor é o líder de resistência. Por esses motivos, os robots enviam um “cyborg” (esqueleto metálico coberto de tecido humano) para matar a mãe de John andes de ele ter nascido.
Como todos os filmes que envolvem viagens no tempo, ‘Terminator’ envolve muitos paradoxos de destino temporal. Kyle Reese e Sarah Connor têm uma noite de paixão onde concebem John (fazendo com que o homem este enviara para o passado fosse também o seu pai). Mais tarde, na sequela, descobrimos que o T-800 (robot assassino encarnado por Arnold) é a causa para a criação da super-tecnologia Skynet.

James Cameron criou assim algo mas do que um filme de acção musculado – criou todo um mundo e um conceito de ficção científica.

Bulldozer humano – o casting do ‘Terminator’

A ideia original de James Cameron passava por o ‘Terminator’ ser um vilão cuja força física não era visível. Ele queria que o “cyborg” assassino não parecesse invencível à primeira, e que conseguisse desaparecer numa multidão.

Por isso mesmo, a primeira escolha recaiu para Lance Henrickssen (série de TV “Millennium”), o protagonista do seu primeiro filme, “Piranha II”. Mas como não era um actor suficientemente conhecido, acabou por ficar num papel secundário. Curiosamente, Henrickssen viria a ser utilizado por Cameron em “Aliens” onde efectivamente fazia de cyborg.

A segunda hipótese foi o atleta/celebridade O.J. Simpson que acabou por não ser o escolhido para T-800 por ser “demasiado simpático” segundo Cameron. Longe estaria ele de saber que OJ viria a protagonizar um dos escândalos de homicídio mais conhecidos da história dos EUA.

Outra hipótese foi Jurgen Prochnow (“Das Boot”, “The DaVinci Code”), actor alemão com uma presença forte mas que na altura também não era muito conhecido. Em mais uma curiosidade, Prochnow viria a fazer de Schwarzenegger no biópico sobre o actor, “See Arnold Run”. Outro nome que foi falado para o filme foi Mel Gibson, fresco do sucesso de “Mad Max II”. Mas nunca passou de um rumor.

Numa fase mais avançada do casting, Michael Biehn esteve indicado para ser o Terminator, e a estrela emergente Arnold Schwarzenegger (vindo do sucesso de ‘Conan, o Bárbaro’) como o herói Kyle Reese. Ou seja, o oposto do que se veio a concretizar.

Foi num almoço de pré-produção que Cameron se apercebeu que o austríaco musculado que estava à mesa com ele é que tinha de interpretar o exterminador. Schwarzie não se convenceu bem ao inicio, pois temia interpretar mais uma personagem orientada para os músculos e para o físico. Mas Cameron fez-lhe ver que, enquanto Kyle Reese era mais um herói bem-intencionado, o ‘Terminator’ tinha potencial para ser um vilão icónico do cinema. Cameron justificou a sua escolha numa entrevista na altura de ‘T2’: “Eu estava particularmente fascinado com a cara de Arnold. Em ‘Terminator’ ele parecia um bulldozer humano sem nunca precisarmos de mostrar o seu corpo e os seus músculos, para além daquela cena de abertura”.

Uma escolha acertada. Os “dotes” de actor de Arnold fizeram com que ele mudasse a frase “I will be back”, como estava no guião, para “I’ll be back”, aquela que é provavelmente uma das frases mais conhecidas da sétima arte.
Mesmo assim, a ideia de Cameron de ter Schwarzenegger como herói viria a ser recuperada nos anos 90, na sequela ‘Terminator 2: Judgment Day’ e no sucesso ‘True Lies’ (A Verdade da Mentira).

Um sucesso mundial

Tendo custado apenas 6.4 milhões de dólares a fazer, “The Terminator” conquistou 78 milhões na sua exibição mundial. Na sua estreia em 1984, as críticas foram muito positivas, tendo sido considerado um filme de acção muito eficaz e imaginativo. A revista Time considerou-o um dos 10 melhores filmes de 1984.
 
Vinte e cinco anos volvidos, o filme ainda vende DVDs, passa frequentemente na televisão e é considerado, junto com “Blade Runner”, como o berço do “Tech-Noir”, género que combina a ficção científica com o “cinema noir”. Outros títulos deste género incluem “Dark City”, “Ghost in the Shell” e a trilogia “Matrix”. Apesar de “The Terminator” ser um título que nos parece muito familiar nos dias de hoje, ele era um filme original e revolucionário na altura. Uma mistura explosiva e original para a época: uma história de amor no limite, cyborgs, viagens no tempo e cenários apocalípticos.
Ainda o ano passado, “The Terminator” foi considerado “culturalmente, historicamente e esteticamente significativo” pela Livraria do Congresso, uma entidade do Arquivo de Cinema dos EUA, que visa preservar para a eternidade os filmes mais importantes.
 

The Terminator 2: Judgment Day (1991)

Levou 7 anos a que ‘Terminator 2’ chegasse aos cinemas – uma luta interminável pelos direitos do filme e outras complicações (sem interesse) do “Hollywood buisiness” tornaram o processo muito moros.
No entretanto, James Cameron convertera-se num dos realizadores mais importantes do cinema fantástico e de entretenimento: “Aliens” arrasara as bilheteiras, e “The Abyss” não deixara ninguém indiferente. Pelo seu lado, Arnold Schwarzenegger crescera para ser um ícone sagrado da acção – um dos actores mais bem sucedidos da história.
No filme, seguimos a história de John Connor (interpretado por Edward Furlong), o filho de 10 anos da Sarah que está “destinado” a salvar a humanidade no futuro. Mas com a mãe presa num hospício, o jovem Connor está mais próximo de ser um delinquente do que um herói. A sua vida vai mudar radicalmente quando dois “terminators” surgem em Los Angeles, um para o matar, o outro para o defender.
O defensor é outro T-800, o mesmo modelo do primeiro filme (Schwarzenegger), o assassino é um T-1000 (Robert Patrick, de “The X-Files”), um robot feito de metal líquido, que consegue assumir formas e imitar pessoas.
John e o T-800 resgatam Sarah do hospício, e decidem que a melhor defesa é o ataque. Os três criam um plano para atacar a empresa Cyberdyne Systems, a responsável pela criação do sistema de inteligência artificial Skynet, o “cérebro” culpado pelo apocalipse futuro.

 

Revolução digital

 
‘T2’ marca uma verdadeira reviravolta no cinema fantástico e nos efeitos especiais.
Um dos marcos foi a personagem de Robert Patrick, o T-1000. Este robot de metal líquido assume formas diversas, emerge do chão de um hospital, e parte-se em bocados de cada vez que leva um disparo. Foi a primeira vez que uma personagem foi criada em CG (Computer Graphics) a partir de movimentos de um actor, e o impressionante trabalho valeu quatro Óscares da Academia. O mago dos efeitos visuais, Stan Winston, viria a surpreender o mundo outra vez com um filme chamado “Jurassic Park”.
Curiosamente, para o papel de T-1000 a primeira hipótese de Cameron foi o cantor Billy Idol – tendo sido inclusive feitos storyboards com o seu rosto. Mas Idol sofrera um acidente de moto uns meses antes da rodagem, e decidiu não aceitar um papel que envolvia tanta violência sobre rodas.
 
 
 
As sequências futuristas do filme também deixaram marca. Uma sequência com robots armados a caminhar sobre esqueletos humanos representa, ainda nos dias de hoje, uma das visões mais negras que Hollywood teve sobre o futuro da humanidade. E o sonho da bomba nuclear ainda mais: a certo ponto do filme, Sarah Connor sonha com um parque infantil a ser reduzido a cinzas por uma bomba nuclear. O ano passado, uma autoridade das energias atómicas americanas considerou ‘T2’ como o filme que mais realisticamente mostra o que aconteceria se uma bomba nuclear rebentasse num grande centro urbano.

Um rapaz e o seu robot

‘Terminator 2’ é um gigante da cultura contemporânea, e um dos filmes decisivos dos anos 90. Mas isto não se deveu apenas às cenas de acção e aos efeitos visuais. O grande mérito até é o relacionamento entre as suas personagens protagonistas, John Connor e o T-800.
O jovem John e o ‘terminator’ criam um laço de amizade, onde o miúdo descobre um improvável pai na máquina. Por seu lado, o T-800 vai aprender os conceitos mais humanos do mundo: a amizade e a tristeza. E no final, apesar de não conseguir sentir tristeza, o monstro mecânico compreende “porque que os humanos choram”.
O conceito de um miúdo “e o seu monstro” foi um tema forte nos 80 e 90, com filmes como “ET, o Extraterrestre” a apaixonarem uma geração. ‘T2’ foi uma variação do mesmo imaginário com músculos e para adultos. A versão “Director’s Cut” do filme estende o desenvolvimento da amizade dos dois, com uma sequência bizarra onde John ensina o ‘Terminator’ a sorrir.
É desta vertente do filme que emerge a outra grande frase do ‘terminator’: “Hasta la vista, baby”. Esta frase, dita numa sub-história cómica, torna-se um ícone tão grande quanto o “I’ll be back” do primeiro filme. É notável como Cameron e Schwarzenegger conseguiram um impacto tão grande na cultura anglo-saxónica moderna com uma personagem que é… um cyborg!

Cameron volta a arrasar as bilheteiras

Tendo custado uns vistosos 102 milhões de dólares, “T2” era no seu tempo o filme mais caro de sempre. O filme conquistou nos EUA uns brutais 204.8 milhões, um acréscimo de 434% sobre as receitas do original. Um recorde absoluto para uma sequela.
O sucesso do filme foi tão grande, que James Cameron aceitou criar um entretenimento revolucionário inspirado pelo filme. “T2 3-D: Battle across time” abriu em 1993 nos Estúdios Universal e ainda lá está nos dias de hoje, sendo um grande sucesso. Esta extensão de 15 minutos de ‘T2’ mostra mais da química de John e o ‘terminator’, assim como novas cenas vistosas do T-1000. O entretenimento combina um filme em 3-D com actores ao vivo, e alguma interactividade com o público. Na Europa, uma versão deste entretenimento está disponível no parque dedicado ao cinema, “Movieland” em Itália.
‘T2’ foi um recordista de venda de merchandise, e também criou um grande legado cultural em torno do mito da Skynet e dos ‘Terminators’ dos quais se destacam diversos videojogos e sagas muito bem sucedidas de ‘Comic books’ e livros de ficção (será de um destes livros que irá surgir ‘T3’). Nestas “realidades alternativas” surgiram algumas combinações interessantes como “Robocop vs. The Terminator”, “Aliens vs. The Terminator” e “Superman vs. The Terminator”.
 


 
 
 

The Terminator 3: Rise of the Machines (2003)

Durante os anos 90, James Cameron anunciou por várias vezes que iria fazer um “Terminator 3”, mas tal projecto nunca se concretizou. Cameron envolveu-se em “Titanic” (estreado em 1997), antes de entrar num longo hiatus que só será quebrado no final deste ano, com “Avatar”.

Nos anos 00, a novelização “T2: Infiltrator” de S.M.Stirling foi um grande sucesso, envolvendo uma nova história de viagens no tempo, com uma ‘terminator’ feminina e com a capacidade de controlar máquinas à distância.
Por tal, a sequela “prometida” que envolveria um filme passado no futuro apocalíptico fica por terra, e os produtores lançam-se de novo com um filme envolvendo o T-800 de Schwarzenegger e um ‘terminator’ assassino. Arnold hesitou em participar num filme da série que não fosse realizado por James Cameron, mas acabou por ceder. Entre outros motivos, recebeu quase 30 milhões para repetir a personagem – tanto dinheiro que acabou por, na altura de produzir, ter ele próprio financiado uma parte do filme.
Estreado em 2003, “Terminator 3: Rise of the Machine” reencontra John Connor dez anos depois dos eventos de “T2”. Na casa dos vinte, John (interpretado por Nick Stahl, de “Sin City”) vive na indigência e no anonimato, nunca tendo acreditado que o “futuro negro” tivesse sido evitar com a investida lançado por ele e para mãe dele no segundo filme.
Confirmando os seus receios, dois novos “terminators” aparecem. Um é o novo T-800, programado para o defender. O outro é um T-X (interpretado pela explosiva Kristianna Loken), um cyborg meio liquido meio esqueleto metálico, que consegue controlar outras máquinas.
“T3” foi um moderado sucesso comercial, e recebido pela crítica com algum entusiasmo. Mesmo assim, fica a sensação de “T3” ser um filme menor – com uma grande parte do orçamento gasto para conseguir Schwarzenegger. A história vive muito de referências ao segundo filme, e toda a dinâmica é igual. É justo dizer que o “sucesso” veio das saudades que o brilhante filme de Cameron deixou. Isto veio-se a confirmar com o tempo, “T3” é considerado dos filmes mais “overrated” (sobrestimados) da história segundo o site Cinescape.
Mesmo assim, “T3” deixa alguns pontes interessantes e importantes para este novo “Terminator Salvation”. No final, o T-800 deixa John Connor e Kate Brewster num bunker para sobreviverem ao apocalipse nuclear. Kate é, segundo o T-800, a futura mulher de John e uma peça vital na guerra contra as máquinas.

The Sarah Connor Chronicles (2007)

Em 2007 a 2008, a saga continuou com a série de TV “The Sarah Connor Chronicles”, que contava com Lena Headey como Sara Connor e Thomas Dekker como John Connor.
Passado na adolescência de John, a série segue os confrontos de Sarah e John com outros ‘terminators’ e a sua tentativa de evitar o futuro sombrio. A série “ignora” o terceiro filme narrativamente, mas toma a mesma abordagem de “reciclar” os elementos que tornaram o segundo filme um grande sucesso.
A série foi recebida com algum entusiasmo mas que esmoreceu depressa. Na segunda temporada, a cantora Shirley Manson (dos “Garbage”) juntou-se ao elenco, interpretando uma nova T-1000, mas os efeitos visuais televisivos não deram resposta às necessidades da personagem.
 
A série foi cancelada em Maio de 2009, poucas semanas antes da estreia de “Terminator: Salvation” (o novo filme ignora narrativamente a série). Os peritos do box office consideram que o cancelamento foi muito “desmoralizante” para as receitas do novo filme.
Um dos problemas desta clara descoordenação prendem-se aos direitos: várias empresas possuem direitos sobre o legado do “Terminator”, e daí a existência de uma série e um novo filme tão dessincronizados. Hollywood tem destas coisas, e é uma pena: o cinema sai a perder.
 

Terminator: Salvation (2009)

2003, Los Angeles.
A Dra. Serena Kogan (Helena Bonham Carter) da Cyberdine Systems convenceu o condenado à morte Marcus Wright (Sam Worthington) a entregar o seu corpo à ciência.
2018, Los Angeles em ruínas.
John Connor lidera um ataque bem sucedido da resistência humana contra uma base da Skynet, onde descobre que os robots andam a fazer reféns humanos para os usar num projecto que envolve cobrir esqueletos-robots com carne humana. Das ruínas desse ataque, emerge Marcus, ainda vivo e inacto.
É assim que começa “Terminator: Salvation” de McG (“Charlie’s Angels”), quinta e mais recente entrega na série criada por James Cameron. O filme segue John Connor (interpretado por Christian Bale, o novo Batman) e o seu “futuro pai” Kyle Reese (Anton Yelchin), tal como uma nova personagem misteriosa – Marcus Wright, interpretado por Sam Worthington, que foi recomendado por James Cameron para o papel (ele é o protagonista de “Avatar”).

Uma nova trilogia

Inicialmente “Salvation” ia ser realizado por Jonathan Mostow (“T3”) e contar de novo com Nick Stahl e Claire Daines. Mas o projecto foi alvo de uma grande disputa legal, e os seus donos finais, a Warner e a Sony, decidiram criar uma nova trilogia e excluir todos os envolvidos no terceiro filme.
Daí que o argumento de “Salvation” vem escrito por John Brancato e Michael Ferris, argumentistas de “T3”. Claro que o novo projecto foi reescritos várias vezes, nomeadamente por Paul Haggis (realizador de “Traffic”) e Jonathan Nolan (argumentista de “Dark Knight”).
Para este novo “T4” o realizador escolhido foi McG, responsável pelos dois “Charlie’s Angels”, uma decisão que foi recebida com muito maus olhos pelos fãs de “Terminator” que esperavam um realizador mais sombrio e mais duro. Face as estas críticas, até foi James Cameron que defendeu McG, relembrando que tinha sido alvo do mesmo cepticismo quando fora anunciado para “Aliens” em 1986.
McG vinha de ter rejeitado realizar “Superman Returns” por não ter querido ir filmar para a Australia pois sentia que não conseguiria controlar as filmagens fora da sua Hollywood natal.
Sendo um entusiasta da série, o realizador norte-americano apaixonou-se com o projecto pela possibilidade de finalmente dar vida ao mundo pós-apocalíptico que assombrava a série desde o primeiro filme. McG recuperou muitos elementos de origem da mitologia, e uma das suas personagens favoritas, Kyle Reese, o herói do primeiro filme.
As influências principais de McG para este filme foram “Mad Max 2” pelo desespero apocaliptico, e “Children of Men” pela estética de guerra impressionante. Isto pode-se notar no trailer que antecedeu a estreia do filme.
Incialmente a escolha para a banda sonora do filme caiu sobre Gustavo Santoalla (de “Brokeback Moutain” e “Babel”), mas a escolha final acabou por ser o reputadíssimo compositor Danny Elfman.

És profissional? – uma rodagem atribulada

“Terminator Salvation” foi filmado no Novo México com um gigantesco orçamento de 200 milhões de dólares, o que é elevadíssimo para os padrões actuais.
Incidentes foi algo que não faltou no set, com Christian Bale a partir a mão, Sam Worthington a magoar-se nas costas, e um dos técnicos a ficar gravemente ferido numa explosão. O céptico McG comparou esta experiência com a rodagem maldita de “Apocalypse Now”.
 
 
 
 
Stan Winston, o mago dos efeitos visuais de “Terminator” e “Jurassic Park”, que já entrara no projecto com uma doença terminal, morreu enquanto o filme ainda estava em produção.
O episódio mais conhecido das filmagens envolve uma discussão atribulada entre Christian Bale e o director de fotografia Shane Hurlburt. A estrela sentiu-se importunada pelo comportamento de Shane, e precipitou-se a insulta-lo aos berros, no mesmo estilo que a sua personagem dá ordens às outras no filme. Como tudo se passou numa rodagem, as palavras de Bale ficaram gravadas e apareceram na internet. O furor foi tanto que até a banda The Mae Shi fez uma hilariante música chamada “R U Professional” dedicada à loucura de Bale.

Estreia desapontante

‘Terminator: Salvation” estreou nos EUA a 21 de Maio, conseguindo 67.2 milhões de dólares nos seus primeiros cinco dias de exibição, marcando a pior estreia de sempre de um filme da série. Isto apesar de ser o primeiro filme classificado para PG-13 (maioria de 12), o que o dava um leque maior de público face aos outros filmes que só podiam ser vistos por adultos.
As críticas do filme foram medianas. Muitos críticos acusaram do filme apostar demasiado na cenas de acção mas ter um argumento mal conseguido e as personagens mal aproveitadas. O agregador Rotten Tomatoes (que dá uma média das notas dos críticos profissionais) dá-lhe apenas 34%.
Mesmo assim, passados alguns dias, já muitos foram os que surgiram em defesa do filme, apontando que é um filme bastante emocionante e com cenas de acção espectaculares. Outros defendem o filme com o seu “feel” de filme apocalíptico e desesperado, e que todo o contexto do filme é muito envolvente.
 
Um dos principais problemas do filme na hora de vender, passou por não ter os vínculos principais ao imaginário mais presente na mente do público. Para muitos, “Terminator” deveria envolver Schwarzenegger e viagens no tempo. “Salvation” não comunica nada disso mas sim um leque de actores totalmente diferentes, num contexto diferente e a lutar com “robots” com o metal a mostra (e não cyborg).

Um futuro?

Com o flop comercial de “Salvation”, o futuro da série está em risco. Especialmente considerando que um potencial quinto filme iria ter vários problemas legais e de direitos.
McG anunciou, no entanto, a sua vontade de continuar, e comentou diversas ideias. Uma delas envolviria John Connor e a resistência a voltarem para trás no tempo para lutar contra o Dia do Juízo final.
O futuro da série, como o das personagens, é incerto!

José Pedro Lopes

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