– Não se preocupe porque não vou perguntar a sua idade.
– Ah. Não se preocupe. Pode perguntar
– Que bom. Que idade tem?
– Hummm. Não me recordo
«Violeta se fue a los cielos» segue a vida de Violeta Parra, o maior nome da música chilena e o equivalente local (em termos de paixão nacional) à nossa Amália ou a Édit Piaf para os franceses. Curiosamente, e em termos de marketing cinematográfico, Violeta tem sido mesmo comparada à francesa e ao americano Bob Dylan, ainda que a sua vida esteja muito longe de qualquer dos dois.
Muito bem filmado por Andrés Wood – responsável por filmes como «Historias de Futebol» e «Machuca» – esta não é a cinebiografia comum que conta a história de mais um artista incompreendido, fugindo constantemente ao sentimento de vitimização de alguém que quis espalhar e ensinar a sua arte mas acabou sem alunos num final bem trágico.
Convenha-se que Violeta quase sempre teve o que quis. De amantes mais jovens, ao reconhecimento de mineiros e políticos chilenos, passando pela burguesia cultural francesa, tudo foi alcançado por uma mulher insatisfeita por natureza e que não se coíbe de amuos e marcas de personalidade vincadas para desenvolver aquilo que bem quis, fosse isso música, tapeçarias, quadros ou meras relações humanas.
Francisca Gavilán como Violeta Parra
– Alguma vez se apaixonou?
– Cinco
– Cinco vezes?
– Cinco Milhões
A direção de Wood foca isso mesmo, fugindo a uma narrativa linear e indo à frente e atrás na história, deleitando-se o espectador com pequenos detalhes que fazem todo o sentido ao longo da sua vida e que mostram o turbilhão emocional que sempre fez parte da essência da Parra. As suas influências, as relações familiares, as tragédias e os desejos são assim expostos com diversa mestria e tudo com os temas da cantora a invadirem constantemente os nossos sentidos.
E se formos a ver, até nalguns pontos mais polémicos, como a sua suposta ligação ao comunismo, são tratados de forma esclarecedora e com bastante humor. Basta lembrar a resposta que ela dá numa entrevista à TV que acompanha os acontecimentos do filme como tópicos de um guião.
– É comunista?
– (…) até sangue vermelho me corre nas veias.
– Mas o meu sangue também é vermelho.
– Ai é? Então dê cá um aperto de mão camarada!
Com uma interpretação magistral de Francisca Gavilán, «Violeta se fue a los cielos» é assim um bom filme para quem conhecer mais sobre esta caricata personagem da cultura chilena e um dos verdadeiros ícones nacionais. E apesar de muitas vezes apresentar as típicas frases feitas que carimbam normalmente este género, o filme consegue ser muito mais que um filme postal e entrar bem no espírito de uma mulher tão genial como complicada.
Jorge Pereira |