Numa conversa com o público no Festival de Tribeca, que encerra as suas atividades este fim-de-semana, o realizador M. Night Shyamalan explicou perante a audiência que o seu novo filme, “Old”, foi muito inspirado na condição atual do seu próprio pai, que – para além de estar já numa fase adiantada da vida – sofre de demência: “Ele vai e vem”, disse Shyamalan numa troca de impressões com o ator Alex Wolff, que atua no seu filme. “Eu poderia lhe dizer que estava a ir para o Festival de Tribeca, mas não tenho certeza se ele ia entender. Hoje em dia, as crianças até realizam e atuam em shows. Quando é que isto aconteceu? Fiz um filme sobre esse sentimento: ‘Uau, piscamos os olhos e muda tudo [estamos velhos]’”.
O realizador abordou ainda as dificuldades encontradas nas filmagens de “Old” na República Dominicana, onde efectivamente houve uma verdadeira quarentena por parte de toda a equipa ligada ao filme.
Na verdade, este projeto foi mesmo o único blockbuster a prosseguir com as filmagens em tempos de pandemia, com o realizador a confessar que não raras vezes “esteve à beira das lágrimas”. “Estava a inventar regras porque era o primeiro a filmar em estado de pandemia. Decidi que íamos todos ficar no mesmo hotel. E paguei por todos: empregados de limpeza, rececionistas, fornecedores, a pessoa que estacionava os carros. Toda a gente estava hospedada connosco. Se eles se comprometessem durante 10 semanas, cobriria todos os encargos. Apenas íamos do hotel para a praia, indo e vindo, todos os dias. E ficámos seguros. Não tivemos um único caso positivo, o que é fantástico, mesmo que seja muito assustador. Mas, por causa disso, tivemos que empurrar as filmagens de maio para a temporada de furacões.”
O filme viu mesmo os seus sets destruídos devido a uma tempestade, mas algo pior aconteceu: “Decidimos construir novamente [os sets], mas a maior preocupação era que a praia tinha sofrido erosão. Não havia praia para o nosso filme que era filmado… na praia. Tivemos muita sorte; pois no primeiro dia, parte da praia voltou, então filmámos daquele lado. Depois ficámos muito familiarizados com a natureza, com as marés e tempestades a 160 quilómetros de distância, quantas vezes a água subia durante um dia, etc (…) E devido à premissa do filme, onde todos envelhecem durante um dia, se um ator interpretava a personagem do Alex jovem, ele estaria lá de manhã, outro estaria depois e ainda outro mais tarde. Tínhamos de aplicar várias próteses e era uma coisa muito complicada. ”
Com Gael García Bernal, Eliza Scanlen, Thomasin McKenzie, Aaron Pierre, Alex Wolff, Vicky Krieps, Abbey Lee, Embeth Davidtz e Rufus Sewell no elenco, o novo filme do realizador de “Glass” é inspirado na banda-desenhada “Sandcastle” (Castelo de Areia), assinada por Pierre Oscar Lévy e Frederik Peeters.
Descrito como um conto de terror existencial, o filme narra a chegada de três famílias a uma praia, na costa francesa. A aparente tranquilidade é fustigada por uma série de acontecimentos estranhos, onde o tempo e espaço agem de forma muito particular: as crianças crescem em poucas horas e todos os que estão na praia começam a envelhecer inexplicavelmente. Tudo fica ainda mais dramático quando é descoberta uma barreira invisível que impede que qualquer pessoa fuja do local, deixando todos com poucas horas de sobrevivência.
“Ninguém nunca viu nada parecido – no tom e na maneira de ser (…) é um filme diferente de tudo“, concluiu Shyamalan em Tribeca.
