Sábado, 27 Abril

Monstra arranca com homenagem aos 50 anos do 25 de abril

O maior festival de animação em Portugal, a Monstra, decorre entre 7 e 17 de março – tendo como espaço principal o cinema São Jorge, o Cinema City Alvalade, a Cinemateca Portuguesa e o Museu da Marioneta. A avançar para a sua 23ª edição, o evento vai exibir cerca de 400 filmes provenientes de 44 países – entre as quais 27 estreias mundiais e 20 novos filmes portugueses. Entre os destaques estão um dia de filmes e debates que homenageiam o 25 de abril e a democracia e um panorama do cinema irlandês de animação.

Conforme ressaltou ao C7nema o diretor da Monstra, Fernando Galrito, há muitos anos havia o desejo de abordar o 25 de abril, mas o cinquentenário da data mais importante da história recente de Portugal proporcionou uma excelente ocasião para a celebração da democracia em Portugal. Um dos destaques será uma “masterclass” com o cineasta José Xavier, justamente exilado em França pela ditadura de Salazar – onde construiu a sua carreira na animação. 

Já o filme de abertura, “Revolução”, reúne trabalhos que evocam a data e são realizados por diversas escolas portuguesas, mas também de países como Bulgária, Alemanha e Turquia. O encerramento também tropeça no assunto: “A Procura dos Cinzentos” reúne novamente um olhar jovem, vindo de estudantes da escola artística António Arroio. O conjunto de iniciativas configura “uma forma de marcar e celebrar a existência da democracia, a mesma que permite que o festival exista. Curiosamente, no meio do festival ocorre o seu momento maior, as eleições” (a 10 de março).

“O cinema de animação português está demasiado preso ao cinema de autor”

Como todos os anos, a Monstra escolhe um país homenageado e, este ano, é a Irlanda a ter 77 filmes exibidos, para além da visita de convidados e da realização de “masterclasses”. Conforme Galrito, a trajetória dos países têm alguma semelhança – na medida em que a animação tem uma trajetória lenta mas, subitamente, começa a beneficiar de um número maior de produções. No caso da Irlanda, foi ainda nos anos 80 que o apoio do poder público ajudou a alavancar o género – gerando o surgimento de diversos estúdios. Um dos destaques é “When the Wind Blows”, filme que abordava a Guerra Fria antes da queda da União Soviética e, de certa forma, “toca em várias questões que estamos a vivenciar nos dias de hoje”.

No entanto, a Irlanda deu um passo que Portugal ainda não: mover-se em direção à uma produção industrial. O país agora garante-se não só com investimentos públicos mas também privados para produzir séries para exportação – a última é um trabalho para a Disney. “A animação portuguesa está demasiado presa ao cinema de autor, ainda não demos o salto para uma produção industrial. Vamos exibir uma coprodução entre a RTP e a Espanha, ‘Diário de Alice’, que espero que seja o primeiro de muitos empreendimentos neste sentido”, reforça.

Competição

Habitualmente sete filmes compõem a lista da Competição Internacional. Nesta edição, o diretor da Monstra destaca “Mataram o Pianista”, coprodução entre Portugal (Animamostra) e Espanha que abre a seção. O filme revela uma história inusitada e, curiosamente, verídica: nos primórdios da Bossa Nova no Brasil, um pianista é uma das peças-chave para o desenvolvimento do género, mas acaba por ser assassinado e completamente esquecido da história de um dos mais famosos estilos musicais do Brasil. 

Galrito destaca também o chinês “Escola de Arte 1994”, uma visão bastante credível e diferenciada da China, longe dos estereótipos habituais. A Competição conta ainda com o vencedor de Annecy, o maior festival de animação do mundo, a produção francesa “Galinha para Linda”, com o filme de marionetes checo “Tony, Shely e a Luz Mágica”, o húngaro “Quatro Almas do Coiote”, o japonês “A Concierge” e o espanhol “O Sonho de Sultana”.

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