Sábado, 20 Abril

Ruth E. Carter: o afrofuturismo no cinema

De "Malcom X" a "Black Panther", os figurinos criados por Ruth E. Carter definem, promovem e defendem a cultura africana no grande e pequeno ecrã.

Cunhado por Mark Dery, afrofuturismo é um movimento estético, social e cultural, que combina elementos da ficção científica com história, fantasia e temáticas não-ocidentais com o objetivo de retratar os dilemas negros e, ainda, interrogar eventos históricos relacionados ao racismo global.

Há décadas que os designs de Ruth E. Carter dão profundidade e veracidade a algumas das personagens negras mais icónicos da história do cinema: Oprah Winfrey, em “Selma“, como a ativista pelo direito ao voto Annie Lee Cooper, Denzel Washington em “Malcolm X” e Chadwick Boseman como T’Challa, o Rei de Wakanda, em “Black Panther“.

A sua militância feroz na defesa do afrofuturismo mereceu que Carter seja o foco de uma exposição retrospetiva no Savannah College of Art and Design’s SCAD FASH Museum of Fashion + Film.

Em 1988, Carter começou a trabalhar com Spike Lee em “School Daze” e a partir dai começou a construir uma reputação de destaque na comunidade cinematográfica. “Quando trabalhei em muitos filmes de Spike Lee, ganhei o apelido de ‘Ruthless’ por outros colegas da equipa que diziam: ‘Ei Ruthless!'” e acrescenta: “Sabia que era porque trabalhei muito nos bastidores, desenhando muitos looks, reunindo materiais e criando centenas de atores fantasiados, relacionando o ator à personagem através da moda“.

A partir daí, usou sempre a sua habilidade criativa para conceber personagens dimensionais totalmente realizados que sustentaram algumas das narrativas mais importantes sobre raça, cultura negra e política no cinema.

Carter recebeu duas nomeações aos Oscars pelo seu trabalho marcante nos filmes de época “Amistad“, realizado por Steven Spielberg, e “Malcolm X“, de Spike Lee. Em 2016, foi nomeada aos Emmy’s pelo remake da minissérie “Roots“. Em 2019, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas concedeu a Carter o Oscar de Melhor Guarda-Roupa pelo filme “Black Panther“.

A sua vitória tornou-a primeira mulher negra a receber esta homenagem, e as suas criações renderam à Marvel Studios o seu primeiro Oscar. Em consonância com todos os elementos da direção artística, Carter procurou definir a moda afrofuturista do “El Dorado” africano em “Black Panther” recorrendo a influências Masai, Suri, Himba, Turcana e Tuareg (nas tonalidades, adereços, bordados, formas/geometria das pinturas) para incutir – quando o deve fazer – um olhar urbano com uma veia punk afastada da afirmação política ou descuido. Em entrevista, Carter confessou influências das linhas de Issey Miyake, o pensamento avant garde de Stella McCartney, e as formas de Gareth Pugh.

Em “Afrofuturism in Costume Design“, a SCAD FASH pretende aproximar o público a mais de 60 figurinos de Carter, que pertencem a filmes que definem uma geração bem como esboços que ilustram o trabalho e a história – ao detalhe – de processo de pesquisa e de design para cada projeto.

Fonte: highsnobiety.com

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