Sábado, 18 Maio

Dan Stevens: “Os robôs e a IA vão chegar muito perto de reproduzir o trabalho de ator”

Dan Stevens e Maren Eggert são os protagonistas da comédia romântica de ficção cientifica "I'm Your Man", concorrente ao Urso de Ouro na Berlinale 2021

Ainda que com contornos de ficção científica, “I’m Your Man” segue a estrutura das comédias românticas, um género pouco habituado a marcar presença nas competições principais dos maiores festivais de cinema. A verdade é que o filme está na disputa ao Urso de Ouro, com Maren Eggert e Dan Stevens a protagonizarem um par romântico improvável. Ela uma cientista brilhante, ele um robô humanóide preparado para de forma algorítmica ser a “alma gémea da mulher”, preenchendo todos os requisitos que ela procura num homem.

Dan Stevens, o ator britânico mais conhecido pelos papéis de Matthew Crawley em “Downton Abbey”, Fera/Monstro em “Beauty and the Beast”, a versão live-action do clássico de animação da Disney e David Haller na série de televisão ”Legion”, foi o escolhido para o papel desse robô humanóide, explicando ao C7nema como filmar este projeto foi para ele um verdadeiro desafio: “Tive muita sorte que um guião destes tenha aparecido. O filme aborda temas atuais sobre a humanidade e o futuro, levantando grandes questões que estão hoje em cima da mesa. O guião está feito de uma maneira muito simples e frontal através da estrutura de uma comédia romântica. O desafio de atravessar a Europa para participar num filme em que falava alemão, num momento em que estamos a viver uma pandemia, foi também muito importante para mim”.

Reconhecendo que estes filmes entre robôs e humanos transformaram-se por si só num género, Steve admite que acima de tudo procurou-se jogar com os diferentes níveis da humanidade, pois é daí que surgem os maiores momentos de comédia, pela presença constante do apelidado “vale da estranheza“, que contrariavam tudo o que a personagem interpretada por Maren Eggert, Alma, defende: “Foi uma experiência de atuação muito interessante, pois para a Maren Eggert este “robô” não é o tipo de parceiro habitual que tem no palco. E também não obtém dele o feedback que espera, o que alimenta a comédia. A realizadora, Maria Schrader, tentou trazer algumas das questões das comédias românticas mais antigas olhando principalmente para o Jimmy Stewart e o Carey Grant. Se olharmos para algumas das suas performances na comédia, especialmente o Carey Grant, é muito robótico nos seus maneirismos. Tentamos incorporar algo daí e foi bastante positivo.“

I’m Your Man

O termo “alma gémea” é também motivo de debate nesta obra, sendo usado para de certa maneira prever que irá evoluir com a utilização de algoritmos que comparam os gostos e preferências de cada um dos indivíduos através determinadas características que querem encontrar no parceiro. Mas será que a tendência será de fortalecimento desse mesmo conceito num mundo algorítmico? “Bem, essa questão é gigantesca. Não sou um engenheiro informático, apenas um ator, mas é uma das questões interessantes que o filme levanta. A Maria Schrader é muito cínica no que toca aos algoritmos e tenta fazer a questão do será que é possível criar esta espécie de lista de coisas que caracterizam alguém como alma gémea? E se uma pessoa preencher todas essas coisas, será ainda assim a pessoa perfeita que queremos encontrar ao nosso lado? O nosso conceito do que é o parceiro ideal está em permanente mudança, para nós individualmente e também como sociedade, por isso o algoritmo possível para chegar a isso terá de ser muito sofisticado para acompanhar essas mesmas transformações”, disse Stevens.

E será que neste mundo em transformação, com os algoritmos a comandarem as operações, e o surgimento de robôs humanóides poderá colocar em causa o trabalho de atores reais? Será que no futuro poderemos contar com prémios de interpretação divididos entre atores reais e robôs servidos por Inteligência Artificial (IA)? Dan Stevens não tem dúvidas que a indústria, seguindo a sociedade, irá tentar repetidamente isso, mas acredita que o “toque humano” será sempre especial e “essencial“. “Existe aquele lado humano – seja o que isso for – que especialmente sente-se nos filmes sobre o amor e o romance. A essência desses filmes é a humanidade, aquela capacidade de falhar e de criar um relacionamento estranho. Tenho a certeza que os robôs e a IA vão chegar muito perto de reproduzir isso, mas creio que haverá sempre algo que faltará. Bem, pelo menos espero que isso aconteça”, explica Stevens entre risos.

Mais curiosa foi a resposta da realizadora Maria Schrader a uma questão semelhante, já que o trabalho dos argumentistas e realizadores poderá ser muito influenciado pelo “algoritmo do gosto“. Schrader acredita que o trabalho e a visão dos argumentistas e realizadores de cinema de autor, onde insere este filme, vai permanecer, mas reconhece que nas obras mais comerciais feitas para o Cinema ou para as plataformas de streaming, esse cenário vai acontecer. Como exemplo ela explicou-nos que este “I’m Your Man” foi construído totalmente com a sua visão e com a do outro argumentista, Jan Schomburg, mas que recentemente, quando trabalhou para a Netflix em “Unorthodox“, realmente sentiu que no pós-produção a força dos produtores e da plataforma sobrepuseram-se às suas opções artísticas e pessoais.

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