Segunda-feira, 20 Maio

7500: uma tragédia anunciada nos céus no compasso do suspense de Patrick Vollrath

Entrevista a Patrick Vollrath, realizador de "7500", que chega à plataforma Amazon Prime a 18 de junho

Ao longo dos 92 minutos em que o piloto Tobias Elias (Joseph Gordon-Levitt) luta para salvar os passageiro de um voo Berlim-Paris de um ataque terrorista, o legado de Alfred Hitchcock, de Brian De Palma, de John McTiernan e de todas as expressões cinematográficas que deram à claustrofobia uma encarnação audiovisual batem no ecrã, fazendo do filme “7500” uma súmula (aérea) do medo e das cartilhas narrativas da tensão.

Desde o último Festival de Locarno, em agosto de 2019, este thriller nas franjas da catástrofe, pilotado pelo alemão Patrick Vollrath, virou um ímã de elogios em mostras como as de Hamburgo e de Locarno. A sua passagem pela Piazza Grande suíça foi uma consagração. Há um ano, no meio à consagração de Vitalina Varela”, de Pedro Costa, e o garimpo de outras pérolas autorais portuguesas, Locarno – que, em 2020, foi atropelado pelo coronavírius– deu a Gordon-Levitt uma reverência da qual a estrela não desfrutava desde a consagração de “(500) Dias com Ela” (2009). E esse respeito ao seu desempenho deve ser ampliado a outros territórios a partir desta quinta-feira, quando a longa-metragem entra na grade de streaming da Amazon Prime. Numa conversa com o C7nema por telefone, Vollrath define o tom claustrofóbico da saga de Tobias Elias como o resultado de um empenho na realização em busca de uma experiência sensorial inusitada.

Não usei uma referência cinematográfica específica para construir o filme e, sim, a minha imaginação, refletindo sobre o que uma pessoa faria numa situação de emergência, na qual se vê cercado. A questão era explorar o nível de tensão a que essa premissa poderia nos levar e conseguir representar esse timbre de suspense”, diz Vollrath, que concorreu a Oscar de melhor curta-metragem em 2016 com “Tudo Ficará Bem”.

Nascido em Eisdorf, na Alemanha, há 35 anos, Vollrath formou-se como realizador na Áustria, tendo Michael Haneke (vencedor da Palma de Ouro de 2009, por “A Fita Branca”, e a de 2012, por “Amor”) como tutor e amigo. Há, em “7500”, uma relação imediata com o cinema de Haneke no senso de desastre anunciado que rege o filme, assim como há na maneira crítica com Patrick estuda a xenofobia e outras formas de intolerância. Na aviação, 7500 é o código de emergência para um sequestro de avião. No caso da longa-metragem, terroristas usam cacos de vidro de garrafas compradas num Dutty Free para tomar de assalto a aeronave. Filmado num cockpit num estúdio de Colónia, a narrativa de Vollrath concentra-se no perímetro da cabine de pilotagem assim que o voo descola e ali fica, mesmo quando um grupo armado de vidros quebrados ameaça a vida dos tripulantes, colocando a jugular deles na mira do ódio. O ex-piloto da Lufthansa Carlo Kitzlinger vive um dos pilotos, Michael, ao lado de Gordon-Levitt. Já Omid Memar e Murathan Muslu interpretam dois dos terroristas.

O conceito de heroísmo nesse filme vem das escolhas que são feitas e não de gestos de ação ou de revanchismo. O que existe de heróico na personagem de Gordon-Levitt é a batalha dele para encerrar aquela situação violenta”, diz Vollrath, que contou com o fotógrafo Sebastian Thaler para alcançar o timbre de realismo que procurava. “A ideia era fazer parecer que a gente estava em um cockpit de verdade, com a luz de um painel de controle real, atento aos espaços mais escuros”.

A influência de Haneke e a alfabetização visual à moda austríaco tirou de Vollrath qualquer preocupação em ter uma filiação com uma tradição específica do cinema germânico. “Vejo filmes de todo o mundo e tento encontrar uma linguagem universal”, diz o cineasta. “Você encontra o cinema que quer fazer experimentando”. 

Notícias