Segunda-feira, 20 Maio

Xavier Dolan e o X da questão afetiva

Estreia esta semana em Portugal o mais recente filme de Xavier Dolan, "Matthias & Maxime".

Na trama, dois amigos, Matthias (Gabriel D’Almeida Freitas) e Maxime (Xavier), que se aproximam dos 30 anos, precisam interpretar uma cena de beijo na filmagem de uma curta estudantil. O contacto que eles têm mexem com suas concepções sobre o amor e com sua orientação sexual. Na entrevista a seguir, decalcada de uma palestra do cineasta ao lado do diretor Werner Herzog e da atriz Julianne Moore, na Croisette, ele fala das suas escolhas estéticas.

Qual é o lugar do amor na sua obra, dedicada recorrentemente aos afetos?

É a desmesura, o combate às convenções morais a partir da paixão. Porém, mais do que o amor, há o lugar das violências familiares, da brutalidade afetiva entre amigos. Isso atrai-me. Não me deixo escravizar pelo realismo quando escrevo os meus diálogos. Eles obedecem a uma lógica que vai mais na direção do lirismo. A minha referência para a construção desse discurso amoroso está mais na poesia de Apollinaire do que no cinema.

E como é a prática de sua construção de dramaturgia?

Eu escrevo tendo música como um leme. Também sou ator e, interpretando,  noto que a musicalidade é o que guia o embate das ideias que eu travo. Na filmagem de Tão só o fim do mundo, procurei uma interação entre os atores que esgarçasse ao máximo as fronteiras da paixão. E o modo de cada um dos meus atores lidarem com a sonoridade dos verbos foi fundamental para isso. Mas o silêncio também é uma forma de expressão, de marcação das angústias em cena.

Como manter uma produtividade tão vasta quanto a sua, dirigindo um filme a cada dois anos, às vezes menos?

Filmo muito e monto rápido, não apenas pelo prazer de o fazer, mas pela urgência de compartilhar com o mundo as histórias que me mobilizam e que façam chegar próximo do entendimento das conexões amorosas.

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