Terça-feira, 14 Maio

Olga: a paixão de uma ginasta ucraniana exilada

Nos cinemas a 12 de maio

Assinado pelo estreante Elie Grapp, e vencedor do prémio de Melhor Argumento na Semana da Crítica, na 74ª edição do Festival de Cinema de Cannes, “Olga” acompanha de perto a história de uma ginasta de 15 anos, de nacionalidade ucraniana, que se encontra exilada na Suiça, onde trabalha para garantir o seu lugar no Centro Nacional de Desporto do país. Porém, quando a revolta Euromaidan eclode na Ucrânia e a sua mãe é espancada e detida pelas autoridades, o coração e a razão de Olga dividem-se entre o amor e a conquista do sonho de uma vida. 

Elie Grape

Foi em Cannes no ano passado que falámos com o francês, residente na Suíça, Elie Grape, que nos falou dos desafios que encontrou nesta produção, que se divide entre o filme de desporto, o drama pessoal e uma análise geopolítica onde não falta o cruzamento de imagens de ficção com outras documentais, onde são visíveis os confrontos que aconteceram na Praça Maidan, em Kiev, entre 2013 e 2014.

O “Olga” é um filme muito físico, de grande exigência nesse campo. Como foi entrar no mundo da ginástica para criar o seu filme?

Entrar no mundo da ginástica foi uma continuidade do meu trabalho no Conservatório de Música e Academias de Dança e das exigências feitas a quem está nelas. Trabalhei nisso nas minhas curtas-metragens anteriores. Estudei durante 10 anos no Conservatório e conheço bem esse mundo, um mundo de enormes exigências externas e internas. 

A ginástica é um desporto individual mas também coletivo, o que torna este filme interessante no olhar onde é que a personagem-título se enquadra. O filme acomoda tudo o que esta jovem desejou durante a vida, que passa por tornar-se uma ginasta de exceção. Esta é uma disciplina que está repleta de movimento e sentimento. Não eram tanto os exercícios que me interessavam, mas a exposição de sentimentos na execução deles. Os olhares entre os atletas, etc. Queria seguir não só os riscos que estes atletas assumem ao fazer aqueles exercícios, mas igualmente a fragilidade de todos estes atletas super potentes. Queria captar toda a sua humanidade. Podemos assistir a toda a frieza de um treino, mas simultaneamente observar a humanidade nele. 

Na captação dessas imagens de desporto foinecessário um conhecimento extra para o melhor posicionamento das câmaras. Como trabalhou e estudou isso?

Sim, foi necessário colocar-me na posição da Olga. Ao nível da sua paixão. Ir com a câmara até ela em busca de equilíbrio, entre a ligeireza e o sentido de vertigem. Trabalhei muito com a Lucie Baudinaud, a diretora de fotografia, para conseguir isso

E a escolha da Anastasiia Budiashkina para o papel de Olga. Houve um casting? Como foi essa escolha?

Sim, logo no início, durante a escrita do guião. Fui até ao Centro Olímpico de Macolin e também a Kiev. Lembro-me perfeitamente quando conheci a Anastasiaa, a única sem experiência de filmagens. E sem experiência porque não tinha tempo para isso, algo que tocou-me. Vi logo nela a intensidade que demonstrou no filme e fiz de tudo para não contrariar essa força. O meu trabalho com ela foi definir uma liberdade para que ela construísse a personagem. No final, a Olga ficou bem mais ambígua que alguma vez imaginei, por isso agradeço à Anastasiaa isso. 

Eu funciono assim. Definindo a liberdade e espaço de um ator, tudo o resto é trabalhado da forma mais precisa possível. Se o guião foi super livre, a montagem foi hiper precisa. Um compensa o outro e tudo que ela acrescentou à personagem e filme sem que pudéssemos prever. No final, a Anastasiia levou a personagem para um lugar melhor do que aquele que eu alguma vez pude prever.

E como trabalhou com a questão da Rússia e da Ucrânia no guião? Teve algum cuidado especial em tratar esse tema sensível?

Sim, sem dúvida. Tomei muitas precauções em relação a isso. Desde a escrita que [eu e a Raphaëlle Desplechin] fomos acompanhados por uma socióloga, um cineasta ucrâniano e por um produtor, que me colocou em contacto com militantes que participaram na revolução de 2014, como a Yulia e o Artem. Isso ajudou-me a abordar o tema além da minha ideia, como francês que vive na Suíça, sobre o tema.

E a introdução dos segmentos documentais. Como foi essa pesquisa?

Descobri esses segmentos no Youtube, uma plataforma que tem uma quantidade imensa desses materiais. Muitas dessas imagens vi durante o desenrolar do Euromaidan. Eram vídeos com uma enorme Intensidade, fisicalidade e transportavam em si uma urgência coletiva de filmar. No filme, elas dão um contexto muito preciso. Havia de ser fiel a esta história, pois não existia nenhuma pretensão universal. Essas imagens eram também fantasmáticas e convocam a imaginação do espectador a ir além do conflito na Ucrânia, mantendo-se sempre fiéis à especificidade do contexto. Ao confrontar essas imagens com o seu presente como ginasta, a Olga parece habitar num mundo flutuante, algures entre os dois pólos.

E depois do “Olga”, já tem um novo projeto? 

Sim, tenho um novo filme que escrevi com um autor francês e que tem um contexto completamente diferente deste “Olga”. É um filme baseado numa história verídica que ocorreu na década de 1930 em França. 


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