Já com mais de 800 mil espetadores em França, apenas em 10 dias de exibição, “Aline” (A Voz do Amorpt), filme livremente inspirado na vida de Céline Dion, chega agora aos cinemas nacionais no início de dezembro.

Com mais de 30 anos de experiência em teatro e cinema, como nos explicou em entrevista, Valérie Lemercier agarrou o projeto com as duas mãos, não apenas no campo da atuação, mas também na realização, continuando assim um percurso onde se incluem filmes como “Dondoca à Força” (2005), “100% Caxemira” (2013) e “Marie-Francine” (2017). 

Crescemos a ouvir Céline Dion (…) este é o meu tributo a ela (…) algures entre a verdade e a ficção”, disse-nos, explicando ainda que preferiu dar à personagem principal o nome de Aline por respeito à cantora canadiana: “Só existe uma Céline”. E mesmo quando nos sets a chamavam por Céline, Lemercier corrigia sempre os autores, pois o que ambicionava para o seu filme era “construir esta história com o máximo de precisão, mas com alguma distância”.

A Voz do Amor

E o “respeito” para com a cantora canadiana e o seu falecido marido, René Angélil, está vinculado a várias opções durante a produção, como por exemplo a recusa em filmar em Charlemagne (Canadá), onde o casal viveu. Na verdade, Lemercier chegou mesmo a ter acesso a duas poltronas que foram da dupla, mas, segundo ela, nem ousou “sentar-se nelas”.

O casal e a sua história de amor está no centro de “A Voz do Amor“, pois Lemercier – mesmo admitindo ser muito romântica – entende que foi no momento em que os dois se conheceram que ambos finalmente se encontraram: “Ela entra na sua vida quando ele está prestes a desistir de ser produtor e é então que ele a revela e ela o salva”. “René hipotecou a casa para produzir o primeiro disco dela” e teve sucesso, diz a realizadora, admitindo que todos gozavam com o casamento dos dois e a sua diferença de idades, mas “certamente qualquer cantor gostaria de ter um parceiro assim ao seu lado”.

Após a morte de René, a “solidão” que atingiu Céline foi o que mais atraiu a realizadora, a qual admite que “sabe bem o que é estar sozinha”. Já para preparar o seu papel, Lemercier admite que visionou inúmeros vídeos, reportagens, além de entrevistas e prestações na rádio, bem como artigos no jornal e livros. E essa investigação não foi apenas a Céline, mas igualmente à mãe, ao marido e a todos os outros em seu torno.

A Voz do Amor

O Québec foi também alvo de estudo, não apenas em termos geográficos e populacionais, mas igualmente no que concerne à música, com muitos autores, que também se ouvem no filme, a serem descobertos durante a investigação. Outro dos objetivos desse estudo aplicado era igualmente escapar aos clichés, ou seja, falar do Quebéc sem aquelas coisas tradicionais, como o xarope de ácer ou os tabernáculos, a fazerem parte das piadas. O mesmo aconteceu com o tradicional sotaque da região, que no filme é sempre apresentado de forma pouco carregada. Lemercier confessa que queria evitar ter de usar legendas em território gaulês, acrescentando uma regra geral para este tipo de situações: “Precisamos sempre de coisas a menos que a mais. Daí esta opção”.

Não é Lemercier que canta em “A Voz do Amor” –  essa tarefa ficou para uma outra cantora que fez as covers – mas foi ela mesmo que assumiu a personagem de Aline, da juventude aos tempos atuais, notando-se um trabalho excepcional na sua caracterização. E quando falámos com realizadora e atriz, em janeiro deste ano, ela sabia que Céline Dion ainda não tinha visto o seu filme e deixou um desejo para o futuro: “Espero que ela veja o filme antes de eu morrer”.