A Jordânia é um dos países mais deficitários no que toca à disponibilidade per capita anual de água, com menos de 100 metros cúbicos ao serviço de cada um dos seus cidadãos.

Curiosamente, o deserto de Wadi Rum, famoso no cinema por ser o cenário usado para várias produções cinematográficas, como “Lawrence of Arabia“, “Perdido em Marte” ou “Dune“, tem por baixo de si mesmo o maior aquífero fossilizado da região, Disi, com o néctar da vida com 20 mil anos afundando por debaixo de terreno árido e arenoso, usado há décadas para fixar a população berbere.

O antropólogo social Pavel Borecký dedica toda a atenção a este país e à sustentabilidade das ações humanas em “Living Water”, documentário exibido no Visions Du Réel, isto depois de ter estreado mundialmente no aclamado Ji.hlava, ainda em 2020.

Living Water” traça um retrato histórico dos problemas da região devido à escassez da água, enquanto avalia -paralelamente – os conflitos que daí advém, o envolvimento da comunidade berbere no tema, e os planos ambiciosos de transformar o país num novo Dubai. A relação entre população, interesses estatais e corporativos, e a própria necessidade cada vez maior das cidades de água, em detrimento das zonas mais interiores,  é particularmente cuidadosa, não apenas na recolha de informação científica e histórica precisa, mas igualmente na  apresentação da natureza das transformações quotidianas de um planeta cada vez mais globalizado, mas com os problemas de sempre.

E para essa precisão o cineasta envolve especialistas, trabalhadores e moradores na discussão, recorrendo ainda a muitas imagens de arquivo e animações computorizadas para traçar com rigor diversas questões geomorfológicas, económicas, políticas, sociais e ecológicas que ameaçam o futuro do região. Um documento importante e bem concretizado.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
living-water-a-agua-e-a-sua-sustentabilidade-na-jordania-a-lupaO filme traça um retrato histórico fiel e preciso dos problemas da região devido à escassez da água