A pompa apagou esta “A Luz Entre Os Oceanos” do radar. Ao estrear em competição na passada edição do Festival de Veneza, sob a aura de “isco para Óscars“, o filme foi amplamente recebido com um encolher de ombros, e é assim já com baixas expectativas que recebemos este novo filme de Derek Cianfrance (“Blue Valentine“) meses mais tarde.
Adaptação de um romance de M. L. Stedman, a obra conta a história de um ex-combatente da Primeira Guerra que se refugia como faroleiro numa ilha australiana com a sua recém-esposa, da qual tem dois abortos. Pouco tempo depois do segundo aborto, o casal avista um barco que dá à costa com um homem morto e um bebé (vivo) e decide mantê-lo como sendo seu.
Para isco falhado, esta quarta longa-metragem de ficção de Cianfrance tem os seus trunfos. Aliado a um trabalho de fotografia sedutor de Adam Arkapaw (“Lore“), temos uma química convincente do casal Alicia Vikander e Michael Fassbender, ou não tivesse o Cupido atingido o coração destes dois atores quando as câmaras paravam de gravar.
Ainda assim, este será um drama sem lágrimas para muitos; bonito de se olhar, sim, mas vítima de uma estrutura narrativa que ameaça crescentemente cansar e irritar em igual medida pelas suas ações questionáveis do ponto de vista lógico, sobretudo as que ocorrem na segunda metade. Cianfrance tem aqui tanto material melodramático à disposição (demasiado para as suas mãos, arrisco a dizer) que há que assumir o fracasso quando este falha redondamente em gerar a empatia (i.e. a catarse emocional) necessária.
O melhor: A fotografia de Adam Arkapaw, a química do casal Fassbender/Vikander.
O pior: A ausência de empatia gerada por uma overdose de material melodramático e um crescendo de decisões narrativas no mínimo questionáveis.
André Gonçalves