Quinta-feira, 9 Maio

«American Hustle» (Golpada Americana) por André Gonçalves

Concordo com o meu colega Hugo no sentido de David O. Russell ter já dado provas suficientes de ser um hábil diretor de atores – e não seriam precisas as 11 nomeações aos Oscars pelas performances dos seus últimos 3 filmes como prova, mas sim recuando até um pouco mais no tempo, numa altura em que o realizador tava longe de ser a nova coqueluche da Academia (quando mostrou ao mundo que atores como George Clooney e Mark Wahlberg eram capazes de mais do que lhes era pedido geralmente em Três Reis, por exemplo).

Dito isto, e mesmo mantendo o estilo meio errático desses tempos – ideal para uma história de vigarices à antiga (o filme decorre na década de 70 e faz questão de lembrar intermitentemente o espectador desse facto), há algo em American Hustle que não cola bem. Após um início bem enérgico, narrado por “ele” e “ela”, mostrando do que é capaz, a narrativa começa a enrolar-se no segundo terço na sua própria chico-esperteza, para desembocar num desenlace inteligente, mas que com outros atores e outra seleção musical e de décors/guarda-roupa já tinha perdido a piada.

Saliente-se então o trabalho do quinteto de atores Amy Adams, Christian Bale, Bradley Cooper, Jennifer Lawrence e Jeremy Renner, e a imaculada reconstituição de época, com direito a uma banda sonora perspicaz que nos faz querer caçar de imediato os temas ainda por conhecer. Saliente-se igualmente o espírito sempre humorístico dos procedimentos. Mas Oscar para Melhor Filme? Esperemos que não.

O melhor: A direção de atores e a reconstituição de época.
O pior: Não ser tão bom e inteligente como pensa ser (característica infelizmente corrente no cinema de David O. Russell)


André Gonçalves

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