Sábado, 18 Maio

“The House Bunny” por Lourenço Henriques

A Casa das Coelhinhas é o título com que se apresenta nas salas portuguesas o novo desafio de Anna Faris, actriz que, desta feita, além de encabeçar o elenco, veste a camisola de Produtora Executiva.

Correndo o risco de ser “fruta fora de época”, por claramente estrear com uma estação de atraso, o filme ostenta um afirmativo carimbo de Verão. É uma comédia ligeira, carregada de mulheres bonitas, homens nem tanto, perfeitamente consciente do seu público-alvo, com toda a sua artilharia apontada nesse sentido.

Quem procura no cinema apenas o entretenimento e a diversão provavelmente não dará por perdida a hora e meia gasta na companhia de Shelley Darlington, uma coelhinha da Playboy que, quando julga estar às portas do sonho, se vê subitamente expulsa da luxuosa mansão em que Hugh Hefner guarda o seu rebanho ou, por assim dizer, o seu harém. É deste modo que, de repente, a vida desta playmate, habituada a infinitas mordomias e riquíssimas companhias, sofre o duro embate que provoca a derrapagem que tudo mudará no futuro.

Naufragada, buscando abrigo e aceitação, Shelley (Anna Faris) acaba por aportar a uma república universitária feminina à beira da ruptura. Empregando os dotes e os ensinamentos vãos do mundo sonhado de Hefner, esta coelhinha vai conduzir grandes mudanças num grupo de raparigas com problemas de adaptação social, que desesperadamente luta por salvar a dita república, a sua irmandade Zeta. No percurso atribulado, a frívola playmate acaba por ser confrontada com a sua própria inadaptação, sendo inevitavelmente levada a reajustar a sua obtusa visão da vida.

Além de algumas gargalhadas asseguradas, o espectador poderá valorizar outros pontos positivos que, de alguma forma, disfarçam o tom geralmente pouco conseguido. A favor desta Casa das Coelhinhas, está sem dúvida o facto de ser um filme despretensioso. Ou seja, em nenhum momento as autoras, Karen McCullah Lutz e Kirsten Smith, caem na tentação de fazer dele aquilo que ele não pode ser.

Mestres da comédia, o reconhecido Adam Sandler, que aqui produz, e o realizador Fred Wolf, que, entre outras coisas, escreveu para o famosíssimo Saturday Night Live, sabem exactamente como reger uma orquestra que se quer divertida. O resultado é bem visível nas várias cenas que, ao longo da fita, produzem excelentes momentos de comicidade.

De realçar é também o desempenho bastante sólido de Emma Stone, que interpreta Natalie, a dirigente da irmandade Zeta. É possivelmente uma actriz a ter em conta num futuro próximo. Ainda a bom nível Kat Dennings, no papel de Mona, e Rumer Willis, filha de Demi Moore e Bruce Willis, bem como alguns aspectos da própria Anna Faris, quase salvam a honra de um elenco notoriamente desequilibrado.

No lado negativo, apesar de ser uma história, para variar, vista numa perspectiva feminina, estão o déjà vu e o cliché. Chovem as ideias mil vezes repetidas e os estereótipos demasiado carregados. Mesmo partindo do princípio de que o cómico vive muitas vezes do exagero, o recurso ao “cromo” torna-se excessivo e a utilização da ironia como arma humorística, logo de entrada, chega a tornar-se incomodativa de tão abusada.

Tecnicamente o filme é banal. Apesar dos tempos de comédia bem medidos pela edição, com uma razoável escolha de planos por parte da realização, nada é inovador, nada acrescenta, nada é particularmente artístico. Excepção feita, talvez, a uma Festa Azteca que resulta numa cena bem trabalhada. No que toca ao guião, há demasiadas pontas soltas, acontecimentos que ficam por entender e viragens difíceis de explicar, que tornam tudo muito pouco verosímil.

No elenco, embora com apontamentos que atestam o seu talento cómico, Anna Faris criou uma personagem atolada em lugares comuns, que pode até servir o propósito de fazer rir, mas pouco mais. Apenas as formas com que a natureza a brindou trazem alguma realidade à coelhinha, que, ao invés das habituais playmates, não consegue ser sensual. O desempenho é monolítico e a construção não vai além da típica loura burra.

A liderar a curta lista de papéis masculinos, timidamente, surge Colin Hanks, que no passado fez parte da Charlie Company, na estupenda série de Steven Spielberg, Band of Brothers – Irmãos de Armas. Desta feita, o actor propõe-nos uma personagem superficialmente desbravada, a não comprometer, mas a deixar demasiado por dizer.

Ainda pela negativa, Katharine McPhee, habitualmente cantora, vencedora da edição de 2006 do programa de televisão American Idol, tem uma estreia apagada nas lides de representar. Também importado da música, Tyson Ritter, vocalista dos multi- platinados The All-American Rejects, segue na esteira da colega de profissão, debutando como actor com um desempenho algo aquém do sofrível.

Como curiosidade, e não mais do que isso, é de apontar a participação de Hugh Hefner, interpretando o próprio. O dono e criador do império Playboy, para a rodagem de A Casa das Coelhinhas abriu as portas da mítica mansão de Los Angeles, tendo inclusivamente permitido filmagens no seu quarto. Coisa que nem sempre acontece.

Postos os pratos na balança e feita a pesagem, os aspectos positivos podem tornar este filme apetecível para o público que habitualmente procura comédias que não dêem muito que pensar. Embora desprovido de cenas hilariantes, o tom cómico está muito presente e até bem marcado. Em boa verdade, é puro e simples entretenimento, de qualidade questionável, a piscar o olho ao sucesso de bilheteira, principalmente nos E.U.A.. Não é bom, mas também nem sempre apetece ver bom cinema.

 
 
4/10
 
 
Lourenço Henriques

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