Segunda-feira, 20 Maio

Sessões na Cinemateca – Escolhas de 21 a 26 de fevereiro

Esta semana termina a terceira e última parte da retrospetiva da obra de Allan Dwan que se iniciou em dezembro na Cinemateca, e ao longo da qual foram mostrados um total de 65 títulos – entre curtas e longas-metragens – do realizador americano de origem canadiana. Nunca, em lado algum, se viu tanto Dwan num só contexto. A nossa recomendação para dizer adeus ao realizador recai sobre um filme mudo da primeira fase da sua carreira, em que conta com uma das grandes divas da época.

Entretanto, prossegue o ciclo “Fatal Justeza”, que aproxima três grandes atrizes do cinema clássico de Hollywood e três grandes mulheres cujo centenário de nascimento se celebra em 2022: Ava Gardner, Cyd Charisse e Judy Garland. Este programa traça o raio de ação dos estúdios norte-americanos nas décadas de 1940 e 50 indo até ao território do film noir, dramático, aventureiro ou fantástico, fixando o melodrama, o feérico, e o género musical. Num conjunto de quase trinta títulos, Gardner, Charisse e Garland têm agraciado o ecrã da sala escura ao longo deste mês, repartindo entre si a atenção dos espectadores – e esta semana destacamos três dos seus filmes, que, não sendo os mais famosos, merecem ser revisitados.

Por fim, destacamos também a sessão dupla “Double Bill”, que esta semana se volta a debruçar sobre o tema da guerra, que parece estar cada vez mais às nossas portas…

Estas são as nossas sugestões para as sessões a decorrer na semana de 21 a 26 de fevereiro:

Seven Days in May (Sete Dias em Maio, 1964) – Segunda-feira, 21 de fevereiro, 15h30, Sala M. Félix Ribeiro // Sexta-feira, 25 de fevereiro, 21h30, Sala M. Félix Ribeiro. Neste thriller político de John Frankenheimer com Burt Lancaster, Ava Gardner (novamente juntos depois de The Killers) e Kirk Douglas, Frederic March, grande estrela masculina do cinema de Hollywood nas décadas de 1930 e 40, interpreta o papel de presidente americano. Alimentando-se de sombras que pairavam no início dos anos 1960 da Administração Kennedy, a intriga constrói-se à volta do ambiente de paranoia da Guerra Fria expondo uma ação conspirativa por parte da cúpula militar para destituir o presidente que apoia um tratado de desarmamento nuclear.

Stage Struck (Este Mundo é um Teatro, 1925) – Segunda-feira, 21 de fevereiro, 19h00, Sala M. Félix Ribeiro, com acompanhamento ao piano por Filipe Raposo. Um grandíssimo filme da dupla Allan Dwan/Gloria Swanson, que funciona como uma reflexão sobre o mundo do espetáculo e do estrelato – a intriga começa quando a personagem de Swanson, aborrecida porque o namorado se pôs a “flirtar” uma atriz famosa, decide ser uma atriz ainda mais famosa do que ela. A assinalar o luxo da produção, uma raridade na época: as sequências de início e de fecho eram coloridas, usando um procedimento experimental (o “Technicolor de duas cores”).

A Child Is Waiting (1963) – Segunda-feira, 21 de fevereiro, 21h30, Sala M. Félix Ribeiro. Neste filme, aliás renegado pelo próprio cineasta, acabou a curta experiência de John Cassavetes no mainstream de Hollywood, na qual realizou este A Child Is Waiting, produzido por Stanley Kramer no curso de um processo traumático para Cassavetes. É certo que não é dos seus trabalhos mais típicos, mas a sua marca faz-se sentir e a possibilidade de vê-lo a dirigir atores com o recorte clássico de Judy Garland e Burt Lancaster garante-lhe toda a pertinência. Garland é a protagonista, no papel de uma professora numa escola para crianças com problemas mentais, espaço à volta do qual tudo gira. Também Gena Rowlands, que viria a protagonizar grandes obras do realizador, tem o papel de uma mãe que abandonou o filho.

The Life and Times of Judge Roy Bean (O Juiz Roy Bean, 1972) – Quinta-feira, 24 de fevereiro, 15h30, Sala M. Félix Ribeiro. No início da década anterior, John Huston assinara a sua primeira, tardia, incursão no western em The Unforgiven (1960) e filmara cowboys deslocados num tempo que já lhes não pertencia em The Misfits (1961). Dez anos depois, em The Life and Times of Judge Roy Bean, o cineasta regressa inesperadamente ao western para filmar, em episódios e inspiração de registo BD, os tempos dos pioneiros americanos a partir de duas personagens verídicas e lendárias do velho Oeste: Roy Bean (Paul Newman) e Lilly Langtry (Ava Gardner). O argumento é de John Milius, que embora fosse fã de Huston, considerou que o realizador arruinou o seu argumento. Uma segunda sessão terá lugar na segunda-feira, dia 28 de fevereiro, às 19h00 na Sala M. Félix Ribeiro.

Missile (1988) & Bilder der Welt und Inschrift des Krieges (Imagens do Mundo e Epitáfios da Guerra, 1989) – Sábado, 26 de fevereiro, 15h30, Sala M. Félix Ribeiro. Em Missile, entre aulas tutoriais sobre ética e procedimentos de emergência, assistimos à preparação daqueles a quem se destinará a eventual tarefa de terem de “carregar no botão” e rebentar com o planeta “back to the dark ages”. Frederick Wiseman “atira-nos” para os corredores onde a guerra é antecipada, calculada e, dentro dos possíveis, evitada. “O treino é a pedra de toque da paz”, diz-se. A guerra burocrática é escalpelizada pela câmara observacional (“mosca-na-parede”) de Wiseman, ao passo que, no filme-ensaio de Harun Farocki, Imagens do Mundo e Epitáfios da Guerra, a guerra é interpretada como regime percetivo em que se procura ver sem ser visto. Farocki percorre a história da arte, em particular da imagem técnica – do iluminismo à moderna tecnologia de guerra que recorre à imagem como instrumento de controlo e policiamento do território –, e leva a cabo uma inquirição crítica sobre formas de barbárie que carecem, na imagem, de um olho que as saiba interpretar ou desocultar.

Nota: Esta semana haverá várias oportunidades para assistir a filmes recomendados em semanas passadas pelo C7nema, como Meet Me in St. Louis (Não Há como a Nossa Casa, 1944), Pandora and the Flying Dutchman (Pandora, 1951), The Pirate (O Pirata dos Meus Sonhos, 1948), A Star is Born (Assim Nasce uma Estrela, 1954).

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