Sexta-feira, 10 Maio

Era uma vez em Antália…

Ao quarto dia do Festival de Antália, o cinema turco mostra as suas garras através de duas obras notáveis e já com projeção internacional.

Primeiro foi “Brothers Keeper”, premiado na secção Panorama da Berlinale. A quarta longa-metragem de Ferit Karahan é toda ela uma alegoria à Turquia e à relação complexa entre curdos e turcos. O foco está num colégio isolado, local onde dois rapazes curdos terão de passar por um rol de burocracias, castigos, desconfianças e problemas relacionados com o isolamento físico e social quando um deles adoece e o outro tenta convencer todos da seriedade do caso. Existem ecos do surreal incutido no real que Cristi Puiu apresentou em “A Morte do Sr. Lazarescu” (2007), mas a estética e o ritmo são muito enraizados no cinema turco, onde as imagens dizem mais que as palavras e o espaço e condições meteorológicas são igualmente personagens de grande relevo e impacto.

O mesmo aconteceu no segundo filme turco que marcou o dia da competição nacional, “Anatolian Leopard”, o qual saiu premiado em Toronto. Também ele uma alegoria com multicamadas (drama, comédia negra, thriller e subtexto político e social), no filme acompanhamos o diretor de um Zoo que tem de lidar com a mudança dos tempos e a transferência de poder do público para o privado. Um “negócio das arábias” que só sobrevive se o Leopardo da Anatólia, espécie em extinção, estiver em boa forma. O problema é quando o leopardo adoece, uma série de problemas apresentam-se pela frente do diretor do Zoo, também ele uma espécie em extinção no panorama económico que vivemos . Um filme cujas influências, como nos explicou o realizador, vão desde Kaurismaki a Jia Zhang Ke, passando por Antonioni e Kiarostami. 

The Crossing / La Traversée

Na competição internacional, destaque para a exbição de “The Crossing”, filme de animação ( técnica da pintura em vidro) de uma tremenda beleza plástica, mas que muitas vezes não casa da melhor maneira com a arte do storytelling que a realizadora Florence Miailhe tenta igualmente incutir. Em foco estão duas  crianças que deixam a sua aldeia pilhada para tentar chegar a um país que esperam ser mais tolerante. Um coming-of-age cujo tema dramático do exílio e da expatriação é tratado entre o real e o fantástico, não faltando cores vivas tingidas a negro quando o perigo se aproxima.

O outro filme do dia da competição internacional foi “Aurora”, drama sobre a maternidade assinado por Paz Fábrega. Um filme curioso de refletir, pois onde a japonesa Naomi Kawase resolve a sua história a favor do melodrama em “Two Mothers”, a costa-riquenha responde com um olhar pragmático sem nunca perder uma transformação que se sente orgânica nas suas personagens e história.

O Festival de Antália prossegue até dia 9 de outubro.

Notícias