Terça-feira, 16 Abril

Documentário sobre Nuno Portas reflete evolução do pensamento sobre as cidades

Curioso o documentário que o arquiteto e urbanista brasileiro Humberto Kzure-Cerquera e a cineasta portuguesa Teresa Prata dedicam a Nuno Portas, uma das figuras mais importantes da arquitetura e urbanismo e grande impulsionador de uma nova forma de olhar e, acima de tudo, pensar a cidade.

É que enquanto se fala de Portas, fala-se também da sua forma de encarar a cidade e de olhar para a sua profissão não como um criador de espaços/edifícios individuais e isolados do que os rodeia, mas sempre através de uma perspetiva de conjunto. “Um edifício não pode viver isolado, tem de viver em relação”. Estes conceitos/ideias – tal como o aprender com local onde se constrói – foram defendidos pelo jovem Portas perante a dupla já consagrada que o acolheu inicialmente, Nuno Teotónio Pereira e Bartolomeu Costa Cabral, e que Portas posteriormente transcreveu para o livro “A Cidade como Arquitetura”.

Visitamos Vila Viçosa, onde arquitetou uma casa construída de uma só vez, mas que aparenta ter crescido ao longo dos tempos, associando-se imediatamente ao próprio contexto em que está inserida. E daí partimos, muitas vezes acompanhados pelas palavras de Nuno Portas ou de outros arquitetos e urbanistas, por uma verdadeira aula que também funciona como exercício de memória.

E também não é esquecido o seu fascínio por cinema, pelo movimento cineclubista, e até o seu trabalho na crítica, uma paixão que lhe deu um olhar sobre os espaços que tudo tinha de cinematográfico. Aborda-se ainda a chegada de outros nomes maiores da arquitectura em Portugal, como Siza Vieira, e a passagem de Portas para o Urbanismo.

Construído entre entrevistas, imagens de edifícios e espaços projetados, “A Cidade de Portas” faz um retrato conciso onde não falta alguma terminologia mais técnica, mas nunca transformando este num objeto inacessível ao grande público. E aborda-se ainda o seu catolicismo progressista, que chocava com o período ditatorial, bem como a sua ação pós 25 de abril, onde trabalhou nas novas políticas de habitação que estudava desde a década de 1960, aplicando aquilo que chamaria a “organização social da procura”, onde não são indivíduos que vão para as casas, mas sim comunidades.

Chegando aos tempos mais presentes, visitamos o seu trabalho colaborativo no Parque das Nações, e visitamos a sua incursão pelo Brasil, no Rio de Janeiro, para onde levou o debate sobre as cidade que já se tinha na Europa.

No final, “A Cidade de Portas” demonstra que apesar de na sua capa parecer essencialmente uma homenagem a Nuno Portas, é principalmente um exercício evolutivo sobre o pensamento sobre a cidade e o papel do arquiteto e urbanista nesta discussão. De certa forma, é como se a dupla de cineastas também tivesse construído este filme a partir de um olhar de conjunto e não individual, coisa que certamente agradará a Nuno Portas e ao espectador.

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