Sexta-feira, 26 Abril

O «Taboo» de Tom Hardy

Tom Hardy é um dos atores mais interessantes da nova geração e desde Bronson (2008), de Nicolas Winding Refn, que ele tem conquistado a audiência com interpretações marcantes, mas quase sempre com demasiada angústia e raiva contidas.

Se olharmos para a sua presença em filmes como O Cavaleiro das Trevas Renasce, Dos Homens Sem Lei , Mad Max: Estrada da Fúria e The Revenant, refletimos que os seus papéis geralmente apresentam uma crueza e um tom animalesco, primitivo e muitas vezes visceral. A sua fisicalidade joga aqui um papel fulcral, por isso não nos parece totalmente impossível que o seu sonho de um dia ser The Punisher não esteja ao seu alcance por questões ligadas à sua estatura (1,75m).

Na nova série do canal FX, Taboo, que esta semana chegou a diversos canais mundiais, Tom Hardy volta a ser o Tom Hardy a que estamos habituados – isto no papel de James Keziah Delaney (Hardy), um ex-soldado desaparecido em África durante anos e que todos pensaram que estaria morto (este início até faz lembrar a história clássica de Robin Hood). Porém, este homem reapareceu em Londres para o funeral do seu pai, um homem odiado na generalidade por todos, e terá de opor-se e confrontar-se à Companhia das Índias Orientais, a qual ambiciona a sua única posse: um pedaço de terra no noroeste dos EUA. James encontra-se assim num jogo de poderes entre a Companhia das Índias Orientais, a monarquia e a recente nação que é os Estados Unidos da América.


Tom Hardy cocriou a série com o seu pai, Edward ‘Chips’ Hardy, e Steven Knight (Peaky Blinders). Ridley Scott é o produtor executivo

Há muito de Alexandre Dumas por aqui, do sentido de injustiça, da luta de alguém contra uma entidade poderosa, de desejo de vingança, mas também a fruição de um anti-herói com elementos sobrenaturais pelo meio, onde mais uma vez aquilo que a nossa personagem não diz (a tal contenção que falamos acima) funciona a favor de alguém que transparece um caráter intimidante e perturbador. Nisto não faltam mesmo elementos que constantemente nos levam até ao que passou/sofreu no tempo em que teve desaparecido e, naturalmente, levantam muitas questões. Que enterrou ele na terra, logo no início? Que lingua estranha é aquela que de vez em quando fala (na verdade, é Twi, falada pelo povo Ashanti no Gana)? Quem era o homem que ele delira na cena da autópsia? 

Ao lado de Hardy, neste contexto, temos Brace (David Hayman), o velho mordomo do seu pai, e a sua meia-irmã Zilpha (Oona Chaplin), com quem tem um relacionamento problemático. Há também um cão abandonado que o acompanha pelas ruas de uma Londres sombria, encardida, corrupta e repleta de devassidão nos seus cantos, onde toda a gente parece ter objetivos muito próprios, misteriosos e que se fecha num cinzentismo que trespassa para a paisagem, para a arquitetura e para a decoração dos espaços.


Oona Chaplin como Zilpha Geary

Os amantes do ambiente sombrio e sujo da cidade a qual, de certa maneira, funciona como uma personagem da própria história, deverão certamente empolgar-se com a série, tal como os fãs mais acérrimos de Tom Hardy. É, contudo, importante referir que na verdade não parece haver uma grande singularidade no projeto: Taboo carimba mais na estética e nos ambientes, onde não falta um traço de gótico do século XIX (a ação desenrola-se em 1814, muito perto do ano em que Mary Shelley escreveu Frankenstein), do que propriamente numa história com substância e com uma verdadeira complexidade de eventos e personagens que fujam ao registo caricatural.

Se Taboo merece o visionamento do seu segundo episódio? Certamente, mas já vimos séries onde o primeiro (vulgarmente o denominado piloto) revelou atributos mais chamativos para além do facto de ter na liderança Tom Hardy e de apresentar ou sugerir elementos capazes de provocar controvérsia e choque por si só – como envenenamentos, profanação de sepulturas, incesto, canibalismo, visões macabras e até fantasmas.

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