Domingo, 5 Maio

«The Human Resources Manager» (A Viagem do Director) por Jorge Pereira

 

O cinema de Eran Riklis volta de novo a «brincar» com as fronteiras e com as intermináveis burocracias, que já em «The Syrian Bride» atormentavam a personagem central.
 
Agora, e em vez de um casamento, temos um funeral como ponto de partida para todo o enredo, mas as personagens com desejos interiores e problemas quotidianos mantêm-se. 
 
No filme acompanhamos o Director de Recursos Humanos da maior e mais famosa padaria de Jerusalém, que neste momento está sob pressão da imprensa e da população. Ele é acusado de não ter participado o desaparecimento de uma das suas colegas de trabalho, morta num ataque suicida, e cujo corpo permanece na morgue por identificar. A mulher é aquilo que Riklis define como a estrangeira «invisível», uma romena que vivia e trabalhava em «Israel» e sem verdadeiras ligações ao território. No fundo, ninguém deu por falta dela, nem mesmo na própria empresa porque no fundo ela tinha sido contratada à margem dos recursos humanos.
 
Numa tentativa de restaurar a sua dignidade, o director de recursos humanos segue numa viagem de redenção até à Roménia, à procura da família da vítima para assim lhe entregar o corpo. A partir daqui começa uma verdadeira Road Trip em forma de funeral, com algumas paragens até ao destino final, pois o mundo em que vivemos é demasiado global e burocrático, até para coisas aparentemente simples, como o transporte de um caixão.
 
Paralelamente a esta Road Trip, vamos também acompanhando a evolução das personagens que embarcam nessa jornada, surgindo outras pelo caminho, como os familiares da falecida, produtos claros de uma família desintegrada, um pouco como a personagem central do filme, um homem afastado da família, viciado em trabalho e que aos poucos nesta viagem vai recuperando a sua humanidade e descobrindo aquilo que nele hhá muito desaparecera.
 
Mas o mais curioso nesta obra, tal como nas anteriores do autor, é a forma ligeira em jeito tragicomédia como todos os assuntos da obra são tratados. Convenha-se que aqui abordamos a morte, as fronteiras terrestres e mentais, a imigração dos «invisíveis», a disfunção familiar, a eterna burocracia e a forma como cada indivíduo é afectado pelas decisões políticas e sociais. E tudo isto surge com uma ligeireza absolutamente fascinante, levando o espectador frequentemente a viajar do sorriso à tristeza, do real ao surreal em meros segundos. E isso é o grande triunfo e a marca pessoal deste autor, um homem que merecia muito mais reconhecimento do que aquele que tem.
A não perder.
 
 
O Melhor: É um filme que aborda questões muito sérias de uma forma ligeira e por vezes hilariante
 
O Pior: Não será visto pelo número de pessoas que merecia
 
 
 Jorge Pereira

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