A Recorded Picture Company (RPC) do Reino Unido ganhou o caso no tribunal superior de Londres sobre a disputa de direitos sobre “O Homem que Matou Dom Quixote“, de Terry Gilliam .
O produtor português Paulo Branco e a produtora francesa Alfama Films exigiam quase 1 milhão de euros de indemnização por violação de um acordo que lhes dava a opção de fazer o filme. Os danos incluíam alegados custos de pré-produção e uma taxa do produtor. Esta exigências foram rejeitadas pelo tribunal do Reino Unido, que concluiu que a Alfama Filmes e Paulo Branco nunca verdadeiramente tiveram hipóteses de fazer o filme e reunir o financiamento necessário, após o azedar da relação entre Gilliam e o português.
Após o romper das relações entre Gilliam e Branco, a RPC concedeu em 2016 a opção à produtora espanhola Tornasol filmes, que acabou por executar o projeto.
Em entrevista ao Cineuropa, em 2018, Gillian explicou o caso que o opunha a Branco: “Nós precisávamos de uma quantia X para fazer o filme e ele não conseguiu reunir nem metade do valor. Que tal isso? Ainda pior, no meu contrato, ele tinha que me mostrar um orçamento, tinha que me mostrar todas as transações financeiras, e recusou-se a mostrar-me o que quer que seja. No final, disse que eu tinha que assinar uma nova declaração – ou assinava ou iria cancelar o filme – e isso dizia que ele iria tomar todas as decisões e eu teria de seguir todas as decisões que ele tomava. Deu-me 24 horas para eu assinar, e eu não [assinei], então ele cancelou tudo. Boom. Muito simples.”
Ainda assim, Branco continuou a afirmar que era dono dos direitos do filme. A resposta do realizador foi seca: “Ele pode dizer o que quiser. Ele pode dizer que tem um metro e oitenta e três de altura; ele pode dizer que ele é loiro e bonito; ele pode dizer que tem 23 anos. Ele pode mentir com todos os dentes e é muito bom nisso.”
Protagonizado por Adam Driver e Jonathan Pryce, “O Homem que Matou Dom Quixote” estreou no Festival de Cannes em 2018, tendo o produtor português protestado na época essa exibição.
Esta decisão aparentemente encerrou mais de 20 anos de problemas associados à produção deste filme. Recorde-se que a primeira tentativa de realizar este projeto, em 1999, saiu fracassada. As filmagens em Espanha decorreram com diversos contratempos. Primeiro o ator Jean Rochefort, que interpretava Quixote, adoeceu com gravidade, mas foi após a destruição dos cenários por uma tempestade que Gilliam resolveu dar a produção por encerrada. Em vez do filme, acabou-se por executar um documentário sobre os azares da produção, denominado “Lost in La Mancha“. Johnny Depp chegou igualmente a estar ligado a este filme.
Dez anos após essa primeira tentativa, o cineasta voltou a tentar pegar no filme, mas mais uma vez o projeto parecia amaldiçoado. Segundo a Variety, num artigo publicado na época, Gilliam viu o financiamento ser negado a poucos meses do início das filmagens e ficou completamente de mãos atadas.
Vale a pena ainda referir que os realizadores do documentário, Keith Fulton e Lou Pepe, fizeram uma sequela de “Lost in La Mancha“, intitulada “He Dreams Of Giants“, que segue novamente os percalços da produção.
