Sábado, 27 Abril

“O Bandido da Luz Vermelha”: Filmin lança quatro filmes de Rogério Sganzerla


Um dos cineastas mais icónicos da história do cinema brasileiro tem quatro filmes disponíveis na plataforma Filmin – uma oportunidade imperdível para conhecer a obra do realizador. Claro que apogeu é o seu clássico, “O Bandido da Luz Vermelha”, de 1968. Mas há mais: dois filmes de 1970, “Sem essa, Aranha”, “Copacabana Mon Amour” e o seu último filme, de 2003, “O Signo do Caos” – todos marcados por elevados níveis de experimentação.

É o lixo sem limites, senhoras e senhores” – grita uma voz a certo ponto em “O Bandido da Luz Vermelha”. Isso depois de uma longa lista de atrocidades enquanto câmara, montagem e narrativa em “off” constroem um mosaico não linear dos signos da pobreza e do crime. “O Terceiro Mundo vai explodir”, repete várias vezes uma personagem. 

O enredo trata da história real de João Acácio Pereira da Costa, um notório bandido que aterrorizou São Paulo nos anos 60 e levou seis anos para ser identificado pela polícia. Acabou condenado em 1967 e cumpriu 30 anos de prisão por quatro homicídios e 77 assaltos. O batismo veio da imprensa – em função de uma lanterna que ele utilizava nas invasões de domicílios, normalmente operadas de madrugada.

Cineastas como Rogério Sganzerla, Oswaldo Candeias (cujo “A Margem” é considerado uma espécie de inauguração do Cinema Marginal) e Carlos Reichenbach foram os grandes nomes abarcados por esse rótulo não muito consensual e endereçado aos novos realizadores que queriam ultrapassar o elitismo do Cinema Novo fazendo política através de cinema narrativo e focado na selva urbana.

Ainda assim o filme está longe de ser uma redenção pura e simples ao cinema narrativo: com o preto-e-branco de pano fundo a redefinir o caos da grande cidade, é um exercício godardiano (de “O Acossado” a “Alphaville”) que leva a estética de encontro ao mundo selvagem e violento do “terceiro mundo”.

Como diz o crítico Inácio Araújo, citado por Laurent Dubois na sua história do cinema brasileiro, “Sganzerla fez um misto de policial, comédia, filme de costumes. A sua ideia era, aparentemente, tirar o cinema brasileiro da seara dos dramas sociais do Cinema Novo, de inspiração europeia. Restitui-o, assim, à influência americana: leve, popular, coloquial e nem por isso menos inventivo, menos crítico, menos profundo. […] pretendia tirar o cinema da esfera excessivamente cultural em que havia sido lançado pelo Cinema Novo.

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