Aos 83 anos, um dos maiores mitos do horror vai filmar novamente, mas não na sua vereda habitual, o giallo. A atenção do romano Dario Argento agora volta-se para o cinema noir, num projeto a ser rodado em França. Às vésperas de uma projeção do seu “Phenomena” (1985) no Brasil (na já tradicional sessão Midnight do cine Estação NET Botafogo, a 29 de março), o C7nema conversou com o mítico realizador sobre o futuro.
“Não será um filme italiano e, sim, uma produção francesa, com atores de lá, numa trama ainda sem título, para a qual já comecei a prospetar o elenco“, disse Argento. “Países como a Coreia do Sul têm feito incursões interessantes ao noir. O México têm estado nesse filão, no empenho de lhes dar um tom dramático. Guillermo Del Toro é um dos nomes que se exercitaram nessa via“.
Artesão do medo, com sucessos de público como “Tenebre” (1982) e “Suspiria” (1977) no seu currículo, Argento lançou a sua longa-metragem mais recente, “Occhialli Neri“, na Berlinale, em 2022. O enredo adota como “monstro” um assassino em série que estrangulou três prostitutas com a corda de um violoncelo. A última corda desse assassino é destinada a Diana (Ilenia Pastorelli), uma acompanhante de luxo que frequenta os hotéis da Via Veneto. Numa noite, o maníaco persegue-a dirigindo uma carrinha até que ela bate com o carro. Ela acorda num hospital, envolta em escuridão. O diagnóstico é definitivo: perdeu a visão durante o acidente. Rita (Asia Argento, filha do diretor), uma voluntária da Sociedade dos Deficientes Visuais, ajuda Diana com os primeiros passos na escuridão na sua nova vida. Enquanto isso, a polícia investiga, sem sucesso, o caso do psicopata que perseguiu a jovem. Mas o violoncelista quer terminar o seu trabalho. Com a ajuda de um órfão chinês. Chin (Andrea Zhang), Diana vai tentar escapar, mas acaba presa num jogo do gato e do rato. “O terror expõe nosso subterrâneo na sua profundidade plena“, diz Argento, que atuou sob a direção de Gaspar Noé no recente “Vortex“.
Ele fala de “Phenomena” (na foto acima) com especial carinho, ao se lembrar do trabalho com Jennifer Connelly. Ela vive a senhorita Corvino, paranormal que fala com insetos. “Ela já era talentosa na juventude e seguiu a brilhar, a ponto de ter conquistado um Oscar. Fizemos um filme belo, fácil de financiar, que me dá alegtia até hoje pela forma como comunica com as plateias mais jovens“, diz Argento, que é filho da fotógrafa brasileira Elda Luxardo. “Tenho muitos primos e sobrinhos no Brasil, em especial no Rio. Sinto em casa lá“.
